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Cultura e entretenimento

Do natural ao sobrenatural. Por Neiff Satte Alam

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“A natureza é o ambiente em que se desfaz o mistério”

O mistério e o sobrenatural andam de mãos dadas desde os primórdios da humanidade. A incompreensão relativa a fenômenos que não podiam ser explicados em razão dos parcos conhecimentos sobre a natureza, fez com que o homem primitivo tornasse sobrenatural muitos fenômenos que hoje são perfeitamente explicados, alguns até parecendo inconcebível não haver entendimento sobre eles no ado.

Quando o homem pré-histórico se encolhia no fundo das cavernas, amedrontado pelos barulhentos e chamejantes raios que iluminavam suas noites de tempestade, temia os impulsos que entendia sobrenaturais, mistérios incompreendidos pela seu reduzido conhecimento destes fenômenos que hoje são tão clara e simplesmente explicados pela física.

O avanço exponencial da ciência vai colocando os mistérios, que envolvem e por vezes amedrontam os homens, como simples enunciados e fórmulas científicas que podem ser perfeitamente absorvidas.

O que seria misterioso ao homem do século XVIII, como o simples entendimento de que a Terra gira em torno do Sol, por exemplo, hoje é uma lição para crianças que ainda não se alfabetizaram, mas nos séculos ados tornaram os homens que assim pensavam em amigos do demônio e inimigos de Deus. A Inquisição, por exemplo, defendia a manutenção dos mistérios que envolviam as leis naturais desde a origem da Terra até os mais simples mecanismo de perpetuação da espécie humana.

Na medida em que a natureza começou a ser melhor entendida e o avanço do conhecimento científico atingiu e explicou os mistérios que assombravam o homem, estes foram se desfazendo. Naturalmente não terminam aí os mistérios, pois a necessidade de busca do impossível, do sobrenatural, é a energia que move a curiosidade do homem e alimenta a imaginação do cientista: explicar o inexplicável!

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A natureza não tem dimensão definida, pois se amplia de acordo com a ampliação do conhecimento que o homem tem sobre ela; transformando o sobrenatural em natural; fazendo com que os mistérios se transformem em leis naturais. Seria mais ou menos como se fossemos lentamente invadindo o espiritual com o material.

Desfazendo os mistérios que nos assombram e atropelando dogmas religiosos com a evolução do conhecimento científico, contrariamente ao que se poderia pensar, estamos ampliando os mistérios que vão surgindo em razão de nossas dúvidas geradas pelo próprio conhecimento.

Os mistérios, assim, vão se alimentando de sua própria destruição e, paradoxalmente, alimentando a natureza das coisas antes sobrenaturais e, por si só, mistérios a serem desvendados.

Quando, e se, chegássemos a desvendar todos os mistérios do Universo, não nos restaria outra saída que não fosse a de retornar aos tempos primitivos, apagar com uma borracha cósmica todo o conhecimento para que a vida tivesse sentido, o sentido da descoberta permanente e da crença no sobrenatural.

© Neiff Satte Alam é professor Universitário Aposentado – UFPEL Biólogo e Especialista em Informática na Educação

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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