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Opinião

Novas considerações sobre a eleição à prefeitura pelotense

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Atualizado às 12h32 de 29/02 |

Ao ler, tenha em mente que os conceitos de esquerda, centro e direita não são rígidos, apenas amparam um raciocínio. Tenha também que na eleição pelotense os espectros ideológicos podem não impedir a aliança de opostos.

Vamos lá!

Não se sabe se o advogado Vitor Paladini será oficializado pré-candidato do DEM à eleição deste ano à prefeitura. Por ora, sabe-se que foi convidado nesta semana pelo vereador democrata Ademar Ornel e que aceitou representar o partido. Mas como Matteo Chiarelli, presidente do partido, não se manifestou oficialmente, a notícia ficou sem o carimbo de 100% SEGURO.

Vitor foi vereador pelo PSB; hoje sem partido, logo se filiará ao DEM.

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Considerando que DEM vai mesmo disputar

Para efeito deste texto, considere como certo que o DEM quer disputar a prefeitura contra o grupo atual que a comanda há 16 anos. Será preciso esperar para ver onde darão as negociações de alianças. Pode ser que o DEM vá a prefeito. Pode ir a vice. Pode até desistir. Em princípio, tende a ser para valer a participação do DEM, pelo fato de que há espaço para uma candidatura do centro para a direita, desde que não seja muito longe do centro.

Para se ter ideia do potencial, Bolsonaro, no primeiro turno, recebeu em Pelotas 78.965 votos (42,59%); no segundo turno, foram 97.524 votos, 54,41% do total de válidos, embora seja preciso considerar que, na votação para o governo do estado, nove entre 10 pelotenses votaram em Eduardo Leite, do PSDB (centro-esquerda), que, contudo, agora enfrenta desgastes com os professores, por conta do Pacote Fiscal e das mudanças que, no bojo, mexem com a carreira dos educadores, ao ponto de ter enfrentado uma greve da categoria.

Eleição pragmática ou ideológica?

Na eleição ada a prefeito, faltou uma candidatura de centro-direita, o que facilitou a vitória em primeiro turno de Paula Mascarenhas, de centro-esquerda; sem candidatos à direita em 2016, todos os votos à direita migraram para o postulante mais próximo, Paula.

Tendo isso em mente, e diante da possibilidade agora de uma candidatura à direita, é que o PSDB local anda conversando com a direção estadual do PSL. Nesta semana, Paula se reuniu com o deputado federal Nereu Crispim, presidente do PSL no RS, e, em postagem nas redes, disse que a conversa foi satisfatória, dando a entender que o ex-partido de Bolsonaro pode se aliar ao PSDB.

Ao tentar atrair o PSL, os tucanos buscam capturar uma fatia dos votos da direita, embora, nesta altura, com a rejeição de Bolsonaro à sigla pela qual chegou ao Planalto, ao ponto de trabalhar pela formação de outro partido, o Aliança pelo Brasil, a imagem do PSL, que agora se aproxima incoerentemente da centro-esquerda, seja uma imagem fisiológica, da busca do poder pelo poder.

Já o DEM estaria determinado a buscar uma aliança com partidos de direita, como Patriotas; de centro, como MDB e Podemos; e também da esquerda, como PSB e PDT. Se isto ocorrer, aliar com esquerda, a contradição ideológica que se verificaria numa aliança do PSDB com PSL também ocorreria com o DEM, embaralhando a percepção de quem espera uma aliança ideológica e não pragmática, como, indicam os sinais, poderá ocorrer nos dois casos.

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Em Pelotas, a aliança puramente ideológica é mais frequente à esquerda, ainda que nem sempre. Nos demais espectros, historicamente, tudo é possível em termos de composições na cidade, onde prevalece a ideia de alianças pragmáticas.

Fetter não deve concorrer

Até surgir o nome de Vitor, pelo DEM, a única candidatura de centro-direita cogitada era a de Fetter Jr. (PP). Mas, com a demora de uma confirmação, DEM e de outras agremiações concluíram que o progressista não pretende concorrer, nem mesmo a vice.

Avaliam que o objetivo de Fetter, que enfrenta a mesma resistência interna verificada em 2016 para uma candidatura própria por seu partido (hoje com 80 cargos no governo), seria barganhar para tentar assegurar a um quadro do PP a vaga de vice de Paula, algo que Fetter não conseguiu na eleição ada e que o contrariou; o ex-prefeito julgava que seu partido merecia a vaga de vice, por ele ter, como prefeito, encaminhado uma série de projetos de obras que acabaram sendo lançados nas gestões tucanas que o sucederam.

Acreditava que o PP merecia a vaga de vice. Mas o PSDB rifou o PP, preferindo o PTB.

A cogitação de que Fetter possa concorrer manda o seguinte recado: “Se o PSDB não der a vaga de vice ao PP, ele Fetter poderia vir a concorrer a prefeito”, ainda que essa possibilidade, em termos práticos, seja remota, pela resistência majoritária interna no partido.

Fabrício Tavares, pelo PP, de vice de Paula?

O tal quadro que o PP pretenderia emplacar como vice de Paula (em substituição ao vice atual, Idemar Barz, do PTB) seria Fabrício Tavares, que, segundo se noticia, pretende trocar o PSD pelo PP, mesmo partido de Fetter. Faz sentido. Afinal, ninguém abandona um partido em que se é líder máximo e único vereador (PSD) por outro (PP), a não ser que seja por um excelente motivo.

O PTB, responsável pela organização financeira das campanhas tucanas na cidade e no estado, não perderia poder com a substituição de Idemar por Tavares na próxima eleição, porque Tavares possui laços estreitos de amizade com a cúpula do PTB, ao qual foi filiado quando vice de Fetter. Tavares seria assim um vice que aglutinaria em sua pessoa o apoio formal do PP, sem alijar o PTB. Haveria apenas uma troca de posições na vaga de vice, PTB por PP, com manutenção de uma cota grande de cargos de confiança para o PTB, como hoje ocorre com o PP.

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A dança de cadeiras acima resolveria um descontentamento que se arrasta desde a eleição ada. Relembrando: naquela ocasião, por maioria, o diretório do PP decidiu apoiar a candidatura Paula, mesmo sem direito à vaga de vice, que ficou com o PTB (Idemar). Já o grupo de Fetter, inconformado por não ter obtido a vice, lançou um de seus quadros, Rafael Amaral, para concorrer como vice de Anselmo Rodrigues, do PDT. A tentativa não funcionou. Como Paula venceu a eleição, o PP se contentou com uma grande cota de cargos de confiança no governo e, agora, buscaria uma “reparação”, daí a possível articulação para emplacar Tavares.

Gesto calculado

Não foi à toa que Fabrício, no ano ado, então presidente da Câmara, emprestou R$ 10 milhões de um fundo legislativo (destinado originalmente à compra ou construção de nova sede da Câmara) para que a prefeitura, num momento em que estava sem dinheiro, pudesse pagar o salário dos servidores sem atraso, ajuda destinada a não ser esquecida e que conta pontos a favor de Tavares na definição do vice.

A leitura acima não é mais do que isso, uma leitura. Pode, no decorrer do tempo, não se confirmar.

Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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