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Para efeito comparativo, tenha em mente um bife de restaurante.
Após saber que o cliente quer a carne “ao ponto”, o garçom pergunta: “Ponto mais ou ponto menos?”
Tenha em mente também que os conceitos de esquerda e direita não são rígidos. Que servem apenas para amparar um raciocínio.
Vamos lá!
Imagine que ponto menos (bife mais para mal ado, partindo do ponto central de cozimento) é a esquerda ideológica. E que ponto mais (mais para o bem ado, a partir igualmente do centro) é a direita.
Antes e durante os primeiros tempos da Lava Jato, a maioria do eleitorado brasileiro preferia um ponto menos. Ou seja, situava-se na centro-esquerda. Gostávamos de comer o bife ligeiramente mal ado, um pouco vermelho.
A eleição de Bolsonaro mostrou que aquela preferência se deslocou para um ponto mais. O grosso dos brasileiros ou a se situar na centro-direita. Não na extrema-direita, mas uma fração apenas à direita do centro. amos a gostar do bife mais bem ado, sem vermelhos.
Muito bem.
Paula Mascarenhas (PSDB) se considera ideologicamente uma pessoa de centro-esquerda.
Na eleição de 2016, que a elegeu prefeita, já pós-impeachment de Dilma, não houve candidatura à direita ao Paço, embora já houvesse espaço para tal. Sem candidatos à direita, os votos desse espectro migraram para a candidata de centro, Paula. O eleitor de direita considera aceitável votar em alguém de centro, mesmo que ligeiramente à esquerda, desde que não fuja muito do centro.
Por sua vez, os votos do eleitor decepcionado com a esquerda também seguiram para ela, até porque, não se esqueça, Paula é de “centro-esquerda”. Aliás, quem analisa sua gestão identifica o viés de esquerda, como, por exemplo, na gestão do Procultura.
Pouco antes da eleição de 2016, o site cantou a pedra: “Com os candidatos que havia, só podia ser um o resultado: Paula ganharia no primeiro turno”. Assim foi.
Em 2020, o cenário é diferente.
Animada com a mudança do apetite do eleitorado de ponto menos para ponto mais, a direita percebeu que pode ter chance de vencer.
O produtor rural Fetter Jr. (PP), por exemplo, tem tratado do tema com várias lideranças partidárias, inclusive da nova direita, ideologicamente mais declarada.
Fetter pode ter chance? Pode. Não só ele. Marco Marchand, do PSL, também pode. Ou outro nome.
O certo é que teria de ser um candidato que incorporasse o discurso da nova direita. Um discurso liberal que questione o viés esquerdista da gestão atual pode agradar o eleitorado.
Mas, em Pelotas, precisaria ser um candidato de direita moderado – não radical. Um bife bem ado um ponto, não mais que isso; porque, duro demais, o eleitor médio local não engoliria. Pelotas não tem tradição de extremos na política.
Num eventual segundo turno com Paula, um candidato de direita extremado teria dificuldades de conseguir os votos do centro e da esquerda, facilitando, com isso, o caminho para uma nova vitória da tucana.
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