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Com 10 indicações ao Oscar, 1917 é um dos favoritos (inclusive desta que vos escreve) ao prêmio máximo do cinema. Com uma história simples, mas brilhantemente comandada pelo diretor Sam Mendes, o filme transcende o gênero para atingir um valor extremamente humano dentro de sua impressionante linguagem cinematográfica.
Na trama, os cabos Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) são jovens soldados britânicos durante a Primeira Guerra Mundial. Eles recebem uma missão praticamente impossível, de atravessar o território inimigo, lutando contra o tempo, para entregar uma mensagem para impedir um ataque que custará a vida de 1600 soldados, incluindo o irmão de Blake.
O roteiro de Mendes e Krysty Wilson-Cairns é inspirado pelas experiências na guerra que o romancista Alfred Mendes, avô do diretor, lhe contava na infância. Com a maestria de sempre, o cineasta traz autenticidade e emoção a uma missão tão difícil quanto fundamental.
O grande destaque do filme é que a produção conduz toda a sua narrativa através da ilusão de um plano-sequência. Em uma filmagem quase sem cortes, a ideia é de apresentar o filme como sendo apenas um longo plano-sequência, em uma única e longa tomada. Com isso, 1917 se junta a outros que utilizaram esta mesma técnica, como Festim Diabólico, de Alfred Hitchcock e Birdman, de Alejandro González Iñárritu.
Um deleite aos olhos, o plano-sequência oferece uma experiência narrativa cujo grande triunfo é da cinematografia do consagrado diretor de fotografia Roger Deakins, que compõe o filme através de várias tomadas extensas, justapostas ao ponto de tornar seus cortes praticamente imperceptíveis. A genialidade de Deakins é vista na sequência de uma batalha noturna nas ruínas de uma cidade sa, parcialmente iluminada pela destruição do fogo e sob a luz de sinalizadores. Sem dúvidas, é uma das imagens mais impactantes que vi no cinema.
Com performances fortes e cruas dos dois jovens protagonistas, Dean-Charles Chapman e, principalmente, George MacKay brilham em cena. Enquanto o primeiro é motivado pelo heroísmo e pela urgência em salvar o irmão, o outro impressiona pelo pragmatismo e pela coragem. Entre os coadjuvantes, atores de peso como Colin Firth, Andrew Scott, Mark Strong, Benedict Cumberbatch e Richard Madden.
Dotado de um primor técnico, desde o posicionamento da câmera até a mixagem de som, a trilha sonora sombria de Thomas Newman coloca o espectador próximo da dupla principal, compartilhando seus medos e aflições. Ao lado dos personagens, também nos sentimos vulneráveis, percorrendo campos abertos e cobertos de lama, encontrando trincheiras abandonadas e cadáveres pelo caminho, além da ameaça constante de inimigos à espreita.
Ambicioso, 1917 é uma experiência única. Um filme sobre humanidade e coragem, em uma das melhores produções sobre a guerra que o cinema já viu. Simplesmente imperdível!
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Déborah Schmidt é formada em istração e servidora.