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Opinião

“Bolsonaro uniu todos os segmentos ideológicos da UFPel, inclusive o pessoal mais à direita”

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Os entendimentos para a eleição à Reitoria da UFPel em 2020 começaram. Na última quinta-feira, quase 200 pessoas, representantes de todas as cinco chapas da eleição ada, se reuniram na primeira plenária para discutir o tema.

Pedro Hallal (foto), atual reitor, e Luis Amaral, vice, deixaram claro que não se consideram candidatos naturais à reeleição e que, hoje, não cogitam concorrer.

Pedro explicou sua posição assim:

“Não acredito em política personalista, do tipo que ocorre, por exemplo, com Lula e Bolsonaro, que arregimentam seguidores em torno de suas figuras. Isso não combina comigo. As candidaturas em que acredito devem obrigatoriamente nascer da construção coletiva, uma confluência de ideias e compromissos antes de tudo, até se chegar a uma pessoa que represente aqueles propósitos.

Eu não sou mais importante que o conjunto, ninguém é. Logo, não é necessário que eu e Luis, pessoalmente, sejamos candidatos.

Na eleição ada, o processo já foi assim. Não éramos um grupo que tinha um candidato escolhido antes de todo o debate, mas o contrário. Por coerência, entendo que, para o próximo pleito, será preciso recomeçar a construção, montar um grupo de discussões, discutir um programa de gestão, para só então esses grupos escolherem quem concorrerá. Se, no final desse processo, acharem que eu deverei ser candidato, e eu concordar, vamos rediscutir”.

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Não concorrer, então, não é uma decisão final sua?

“Pessoalmente, minha intenção hoje é não concorrer”.

Por quê?

“Primeiro, pelo que já disse acima. Em segundo, o desgaste pessoal de ocupar o cargo, como se pode imaginar, um cargo com prazo de validade, com tantas e importantes responsabilidades, uma área do peso da Educação, e enormes desafios a vencer. Por fim, uma profunda decepção com algumas instituições representadas por maus profissionais e maus servidores que fazem com o que o desejo de continuar vá desaparecendo”.

Por isso?

“Sim”.

Voltemos ao processo eleitoral. Criticaste o personalismo na política, chegando a citar Lula e Bolsonaro….

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“Acho um horror o que a esquerda faz em relação a Lula, e a direita, em relação ao Bolsonaro: transformam em pessoas coisas que deveriam ser projetos. Trazendo para o âmbito local, não é o sucesso do reitor, mas sim do projeto.

Para ter ideia, quando começamos a montagem do nosso programa para a eleição ada, que terminou me elegendo, eu acreditava e manifestei o desejo de que o nosso candidato deveria ser o Gastal (Alexandre Gastal, da Faculdade de Direito)”.

Com relação ao processo eleitoral do ano que vem, como foi o clima na plenária de quinta-feira ada e qual sua previsão?

“O clima foi o melhor possível. Entre os presentes, houve 178 pessoas, gente dos cinco grupos que concorreram a reitor com candidatos próprios em 2016, inclusive dois candidatos daquela ocasião, além de mim e do atual vice.

Sobre a previsão, eu diria que o pessoal representado pelas cinco chapas de 2016 presentes na plenária de quinta caminha para formar uma chapa única, cinco em um, uma união de forças que, na eleição ada, eram em grande parte convergentes e que, agora, com o novo clima político (governo Bolsonaro), aproximou ainda mais, atraindo até mesmo o apoio de pessoas de fora dos grupos que concorreram naquele ano”.

Uma provocação: Bolsonaro conseguiu então a façanha de reunir a esquerda na UFPel?

“Eu diria que uniu todos os segmentos ideológicos, inclusive o pessoal mais à direita.

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Eu acredito que todo mundo está consciente de que a UFPel está em um rumo bom, não precisa de intervenção. Quando falo em intervenção me refiro à eventualidade de o presidente recusar todos os nomes da lista tríplice de reitores que vierem a vencer o próximo pleito.

Creio que a UFPel consegue chegar a nomes que representem a diversidade dos compromissos da comunidade, que é o mais importante, com a autonomia prevista na Constituição. Mais UFPel, menos governo federal, menos agentes externos”.

É possível desvincular a política partidária da eleição de um reitor?

“Não é fácil separar, mas o que deve preponderar é o bem para a Universidade, não o jogo pelo poder. Eu sempre procurei separar as coisas. Como é público, vários partidos me procuraram para concorrer a prefeito de Pelotas. Nesse sentido, houve e há diálogo, embora minha posição, igualmente pública, é por não concorrer. Não concorrei a prefeito.

Por outro lado, em nenhum momento os partidos me procuraram com propostas relacionadas ao pleito para a Universidade. Por isso, dou um crédito aos partidos. Nem sempre foi assim. No ado, algumas pessoas com projeto pessoal se esconderam atrás de partidos para usá-los para seus projetos de poder. Comigo, não houve essa tentativa de ingerência, e se houvesse eu não aceitaria”.

Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Brasil e mundo

A liberdade sagrada das redes

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa. Pois, assim como a criança abalada pelo trauma, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas podem se retirar para o mundo virtual, guardando, daquele, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso. Pode-se dizer que não estávamos preparados para tanta liberdade súbita, e que venhamos, neste momento, usando-a “mal”. Contudo, parece razoável dizer que, à medida que o tempo e, estaremos mais e mais preparados para lidar com a liberdade e seus efeitos.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que — eis o ponto — como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além de tudo, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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Brasil e mundo

Vivendo em mundos paralelos

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. Um mero buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima. Nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção numa área de vida e morte, como a de saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão nas percepções. Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, no essencial, nada muda em nossa realidade. Isso ficou mais evidente porque as redes sociais deram vazão, sem os filtros editoriais da imprensa, a um volume de problemas reais maior do que o que era noticiado. Se antes já havia demora nas soluções, essa percepção foi multiplicada pelo crescente número de denúncias feitas nas redes pelos próprios cidadãos. Os problemas que dizem respeito à coletividade se avolumam sem solução a contento, desconsolando e fatigando a vida.

Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

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Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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