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Por Eduardo Affonso *
Hoje é dia de tensão. Tem voto da Rosa Weber.
“Da cabeça de juiz, da barriga de grávida e da bunda de neném, nunca se sabe o que vai sair”, dizia-se antigamente, antes da invenção do ultrassom. Permaneceram enigmas a cabeça de juiz e a bunda do neném. Mas depende do juiz – e do neném.
Sem citar nomes, alguém tem dúvida de qual será o voto do Gilmar? Ou do Ricardo (nome fictício, para preservar a identidade do Lewandowski)?
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Já o voto da Rosa é um mistério. Talvez até para ela mesma. É um voto que não nasce voto: torna-se voto. Vai sendo construído à la Ricky Martin: un pasito pa d’lante, un pasito pa trás.
O voto dela é um imenso prolegômeno. Um prefácio mais comprido que o livro. Uma transa na qual as preliminares duram tanto que você já acendeu o cigarro, já perguntou se foi bom, já ligou no dia seguinte, já inventou uma desculpa para não encontrar de novo e a pessoa ainda está lá, tentando abrir o fecheclér.
É sempre um voto embasado, consistente, equilibrado. Tão equilibrado que, até chamarem o VAR, não dá pra saber se foi w.o., nocaute ou impedimento.
Deve ser culpa do sobrenome. Rosa pensa em alemão, com aquelas frases imensas em que já foram usados todos os substantivos, adjetivos, advérbios, pronomes, conjunções aditivas, adversativas, concessivas, conformativas – e nada de chegar no verbo.
Rosa tem plena consciência de que é o fiel da balança. Que é a bendita ignição que sempre engasga no filme de terror – se ligar, a mocinha se safa; se falhar mais uma vez, o psicopata de machadinha ensanguentada na mão faz a festa. E até as luzes se acenderem e começarem varrer a pipoca do chão, a gente nunca sabe de que lado ela estava.
Votação no Supremo tinha que ser como no Programa Sílvio Santos: o juiz fica numa cabine à prova de som e o apresentador pergunta:
– Vossa excelência troca este lindo conjunto de jantar de fórmica vermelha por uma bala 7 belo de framboesa?
– Siiiiiiiiiim!
– E põe na rua centenas de estelionatários, trapaceiros, escroques, gatunos, vigaristas e facínoras para poder tirar um certo ex-presidente da prisão?
– Nãããããão!
Pronto. Em 5 minutos cada um dos 11 ministros já estaria desembrulhando sua 7 belo e conversando amenidades, enquanto o país voltava à programação normal.
Mas não. A partir das 2 da tarde de hoje, lá vamos nós prender a respiração. E não por causa do que possa sair do bumbum do bebê, mas da cabeça da juíza.
Juízo, Rosa.
Juízo.
E que São Rivotril nos ajude a esperar pelo final do voto.
*Eduardo Affonso é colunista de O Globo. Gentilmente, aceitou que republicássemos no Amigos de Pelotas seus textos do facebook.