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Cultura e entretenimento

Hoy charlan sobre Schlee na capital

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Geraldo Hasse

A Editora Ardotempo, criada há dez anos para editar o romance “Don Frutos”, promove nesta quinta-feira às 18h na PUCRS em Porto Alegre uma charla sobre o escritor Aldyr Garcia Schlee, que reuniu em 15 livros uma prodigiosa síntese da coisas da vida nos dois lados da fronteira
Brasil-Uruguai, particularmente em sua terra natal, Jaguarão.

No encontro estarão leitores, parentes e amigos, entre eles o professor Sergius Gonzaga e o romancista Luiz Antonio de Assis Brasil, colaboradores da derradeira obra de Schlee, o Dicionário da Cultura pampeana, com 10 mil verbetes bem mastigadinhos.

 

Nascido em 1934, Schlee morreu no final de 2018 em Pelotas, onde ou a maior parte de sua vida profissional, iniciada como artista gráfico e jornalista.

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Famoso aos 19 anos por ter criado a camiseta “canarinho” da Seleção Brasileira de Futebol, sustentou a família (três filhos) como professor de língua portuguesa e direito. Especialista em direito internacional, elaborou a minuta do Tratado da Lagoa Mirim.

Começou a escrever ficção aos 26 anos. Sua especialidade foi o conto, gênero que lhe deu vários prêmios, mas nas últimas décadas desenvolveu uma novela espetacular sobre as origens de Carlos Gardel (“Os Limites do Impossível”), seguida por uma inspirada biografia à rédea solta do caudilho Fructuoso Rivera (“Don Frutos”), o qual ou uma temporada em Jaguarão antes de empreender sua última viagem para Montevideo (se murió en el camiño).

Schlee deixou inacabado um trabalho espelhado em Jorge Luis Borges, o “bruxo” da literatura argentina. Aldyr Rosenthal Schlee, o filho mais velho do escritor, acha que não faria sentido publicar algo incompleto, mas o arquiteto e artista plástico Alfredo Aquino, que adotou Schlee como carro-chefe de seu trem editorial, acredita ser possível fazer um bom livro sobre o que o bruxo de Jaguarão viu no gênio de Buenos Aires. É uma história que começa por volta de 1941, quando o menino Aldyr viu um homem de bengala no saguão de um hotel da fronteira BR-Uy. Era Borges, que eava de carro com um amigo, mas Schlee só ligou os fatos muitíssimos anos depois. E até escreveu sobre esse encontro com o desconhecido hoje lendário (Borges se murió en 1986).

Na realidade, tudo que Schlee narrou, ou quase tudo, foi editado em primeira mão ou reeditado com requintes gráficos pela Ardotempo, editora que talvez não existisse se o romance “Don Frutos” não tivesse sido recusado pela Companhia das Letras e por outra editora paulistana a quem os originais foram enviados — as duas alegaram que publicariam se o autor cortasse um terço das páginas. Donde se concluye que  Ardotempo nasceu para compensar a recusa a um dos maiores escritores do Pampa.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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