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Basta ear os olhos pelas redes. Estão carregadas de pré-candidatos a vereador. Gente sonhando com ampla aprovação no sufrágio de 2020, alguns deles repetentes, muitos marinheiros de primeira viagem. Estão agora na fase de pré, esboços de si.
Há gente de todo perfil, mas podemos dividi-los, creio, em dois grupos: os que adotam um tom benigno e os outros.
Os benignos demoram mais a se fazer conhecidos, mas são menos nefastos para a saúde do que aqueles que perseguem os holofotes fazendo uso do tom oposto, permanentemente contra alguma coisa, contra alguma ideia, contra um governo, contra alguém.
Esses, do contra, são ansiosos e falsos; estamos carecas de saber no que deram em outras eleições.
Os do contra são os piores, porque apostam nos nossos piores instintos. Nada mais fazem do que meterem-se em avatares de si mesmos, com o objetivo de atrair seguidores fanáticos, cúmulos de likes de futuros eleitores, e há quem caia nessa.
Um parêntese para o seguidor fanático (ele não é exatamente um puro, pelo fato de ser obtuso de nascença; veio assim… sem capacidade de alcançar um discernimento apesar dos filtros da experiência. O homem vivido tende a ser menos crédulo nos semelhantes, daí a sentença sobre o fanático).
Os pré-candidatos do contra fazem barulho, mas em geral são os a favor de alguma causa que merecem maior atenção. Esses tendem a ser menos abusivos, menos arrogantes, embora não necessariamente se revelem capazes nem honestos. Se não chegam a fazer bem à saúde, os benignos ao menos não aviltam a nossa ignorância nem saem a campo dispostos a suscitar nossas frustrações para canalizá-las para a urna.
Se nem Freud chegou a decifrar o comportamento humano, embora tenha ampliado a autoconsciência com notável astúcia, vale dizer que não é fácil saber quem o outro é de verdade, principalmente depois que consegue o que deseja.
Em geral, o interesse dos melhores em cargos eletivos públicos, embora possa ter mil motivações, creio que a principal delas tem a ver com se sentir amado. A própria exposição já satisfaz em parte esse anseio.
Claro, a investidura, e um salário, não fariam mal. Sempre se pode fazer alguma coisa com eles.
No fim, um e outro se salvam, no sentido de fazer algo de real valor.
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© Rubens Spanier Amador é jornalista.
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