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Brasil e mundo

Brasileiro vai valorizar liberalismo quando ficar rico, diz líder de instituto empresarial

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Fábio Zanini |

PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Organizador do principal evento liberal do país, o Fórum da Liberdade, o Instituto de Estudos Empresariais (IEE), fundado em 1984 em Porto Alegre (RS), ou décadas remando contra a maré.

Os defensores do Estado mínimo abrigados na entidade só se viram recompensados com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro. Não por alguma predileção especial pelo capitão que hoje ocupa a Presidência, mas por serem adeptos do que eu chamaria de Igreja Pauloguediana.

Paulo Guedes, atual ministro da Economia venerado por liberais de Norte a Sul, é figura frequente nas edições anuais do Fórum da Liberdade, que se realiza desde 1986 e reúne autoridades, professores e convidados internacionais. “Veio já umas seis ou sete vezes”, calcula o novo presidente do IEE, Pedro de Cesaro, 32, que toma posse na próxima terça (2) para um mandato de um ano.

Duas figuras de proa egressas do IEE estão em postos importantes na equipe de Guedes: Paulo Uebel, atual secretário de Desburocratização, é ex-presidente do instituto; Wagner Lenhart, secretário de Gestão de Pessoal, foi diretor.

Nem por isso a pauta do instituto é restrita. No ano ado, a entidade promoveu debate com diversos candidatos a presidente, alguns de ideologia oposta à do liberalismo puro, como Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) –definido por Cesaro como “um cara engraçado e carismático”.

Também fizeram uma videoconferência com Olavo de Carvalho, cujo conservadorismo exacerbado não agrada a maioria dos associados do IEE. A ideia é privilegiar o debate.

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Em geral, liberais não se sentem confortáveis sendo classificados como parte da família da direita, como muitos costumam fazer. “Esse rótulo de direita e esquerda é algo que a gente não gosta e não usa. Pode olhar nosso material, você nunca vai ver nada falando de direita”, diz Cesaro. “Quando alguém pergunta: tu é de direita ou esquerda? A gente diz: não, a gente é liberal.”

Talvez a associação se dê mais pela questão econômica, da defesa do livre mercado, embora, conforme lembra Cesaro, a direita já tenha sido bastante estatista no ado, como no regime militar.

O IEE, diz seu presidente, abriga vários matizes de liberalismo entre seus cerca de 250 associados. Há desde os mais moderados, que defendem algum papel do Estado na atividade econômica, até uma minoria de anarco-capitalistas, que são contra a existência do próprio Estado e defendem que as relações humanas sejam 100% estabelecidas pelas trocas comerciais.

Cesaro, que trabalha no mercado financeiro, diz que não chega a esse extremo, mas é um radical defensor das privatizações. “O Estado não tem que ter empresas. Nenhuma, zero. Não existe setor estratégico. Existe setor estratégico para as forças políticas que um dia vão querer colocar a mão nele”, afirma.

As regras de entrada no IEE fariam inveja aos mais exclusivos clubes da elite paulistana. Primeiro, é preciso ser um empreendedor, ou seja, ter uma empresa. Advogado não pode ser membro, a menos que seja sócio do escritório. Jornalista, só se for dono de jornal. E por aí vai.

Além disso, é preciso ser indicado por um membro para ser aceito. A faixa etária dos associados é restrita, de 20 a 35 anos, dentro do espírito de ser uma entidade formadora de novos quadros liberais. Por fim, a mensalidade é salgada: de R$ 700 a R$ 800.

Para o IEE, o ambiente agora está mais favorável à defesa de suas ideias, mas o Brasil, afirma Cesaro, ainda está longe de ser um país liberal. Convencer a sociedade dos benefícios do livre mercado, acredita, é um processo que leva tempo.

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“Quando um país, uma sociedade, descobre que é liberal? Quando fica rico”. Ou seja, diz ele, quando os brasileiros virem o resultado de uma economia de mercado ao comprar um produto mais barato, darão valor ao liberalismo.

Para o presidente do IEE, o liberalismo triunfará se Bolsonaro der condições para Guedes implementá-lo. “O Brasil já teve governo autoritário, já teve governo social-democrata, já teve governo de esquerda. Acho que está na hora de ter governo liberal, né?”.

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A liberdade sagrada das redes

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa. Pois, assim como a criança abalada pelo trauma, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas podem se retirar para o mundo virtual, guardando, daquele, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso. Pode-se dizer que não estávamos preparados para tanta liberdade súbita, e que venhamos, neste momento, usando-a “mal”. Contudo, parece razoável dizer que, à medida que o tempo e, estaremos mais e mais preparados para lidar com a liberdade e seus efeitos.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que — eis o ponto — como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além de tudo, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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Vivendo em mundos paralelos

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. Um mero buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima. Nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção numa área de vida e morte, como a de saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão nas percepções. Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, no essencial, nada muda em nossa realidade. Isso ficou mais evidente porque as redes sociais deram vazão, sem os filtros editoriais da imprensa, a um volume de problemas reais maior do que o que era noticiado. Se antes já havia demora nas soluções, essa percepção foi multiplicada pelo crescente número de denúncias feitas nas redes pelos próprios cidadãos. Os problemas que dizem respeito à coletividade se avolumam sem solução a contento, desconsolando e fatigando a vida.

Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

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Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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