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Brasil e mundo 3m3y11

Sobre democracia, kaftas, debates e bombons. Por Pedro Hallal 2lf70

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Pedro Hallal, reitor da UFPel

Nos últimos dias, o Ministro da Educação tem dado muitas explicações. Por honestidade intelectual, é necessário começar o texto procurando os pontos positivos dessas iniciativas.

É louvável que qualquer gestor venha a público explicar as políticas que implementa. Também é positivo que o Ministro tente alcançar diversos públicos, por meio de manifestações em múltiplas plataformas, incluindo a mídia, o senado e as redes sociais. Sempre defenderei o debate respeitoso, transparente e democrático.

Pela mesma honestidade intelectual, no entanto, é necessário contrapor os argumentos do Ministro em suas manifestações recentes. Ao tentar minimizar o impacto do corte de 74% no orçamento de capital e de 28% no orçamento de custeio (no caso da UFPel), dizendo tratar-se de um corte de apenas 3,5% no orçamento total, o Ministro tenta ludibriar a opinião pública e colocar a sociedade contra os reitores e reitoras das Universidades.

Notem que o vídeo gravado pelo Ministro não inventa dados, sequer usa números mentirosos. A interpretação desses dados é que é equivocada. O orçamento das Universidades Federais é dividido em 3 fatias principais: (A) salários e benefícios dos servidores ativos e aposentados; (B) custeio – para o sustento do dia-a-dia da Universidade; (C) capital – para investimentos, como obras e compra de equipamentos.

O Ministro tenta ludibriar a opinião pública e colocar a sociedade contra os reitores e reitoras das Universidades

No caso da UFPel, 88% do nosso orçamento é alocado pelo próprio governo federal na fatia A (salários e benefícios). Esses recursos sequer são manejados pelo reitor; eles vão direto para os servidores. É verdade que a fatia A não sofreu cortes, até porque é proibido pela Constituição Federal. Mas também é verdade que os reitores e reitoras não possuem qualquer capacidade de remanejo do orçamento de salários e benefícios para arcar com outros custos da Universidade.

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A fatia B (custeio), no caso da UFPel, tinha um orçamento de R$ 74 milhões, dos quais R$ 21 milhões foram cortados. Com esse dinheiro é que pagamos os 593 trabalhadores terceirizados (portaria, limpeza, vigilância, etc) e a conta de luz, só para citar alguns dos nossos principais gastos. Essa é a fatia que realmente importa, pois é aqui que o risco de fechamento das instituições por incapacidade de pagar as contas é real. E o corte nessa fatia foi de 28% na UFPel e 30% na média nacional.

A fatia C (investimentos) era de R$ 9 milhões pelo orçamento, sendo que ficamos com apenas R$ 2 milhões. Seria intelectualmente desonesto eu citar esse corte de mais de 70% e justificar as dificuldades da UFPel por esse corte. Isso porque uma Universidade sem recursos de investimentos não deixa de funcionar no curto prazo, ela “apenas’” fica sucateada.

Em resumo, se considerarmos as três fatias, é verdade que o corte, no caso da UFPel, é na faixa de 4%. No entanto, se considerarmos que o gestor não tem qualquer ingerência sobre a fatia A (salários e benefícios), o corte é de cerca de 30% no orçamento que o reitor efetivamente possui para fazer a gestão da Universidade (fatias B e C). Mesmo que o reitor quisesse, ele não poderia tirar dinheiro da fatia A para pagar contas da fatia B.

Agora é hora de jantar. Como qualquer descendente de libanês, quem me dera ter umas boas kaftas para a janta. Seria ótimo também ter uns bombons na sobremesa.

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Brasil e mundo 3m3y11

A liberdade sagrada das redes 3f2n1p

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Noutro dia escrevi um texto sobre a cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem, responsabilizando parcialmente as novas tecnologias de comunicação. Disse: “Se por um lado as tecnologias deram voz à sociedade, por outro, nos têm distraído da concretude do mundo, de interação mais hostil, levando-nos a viver em mundos paralelos”. E: “No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades, mas sim no mundo virtual, um refúgio, retroalimentado pelo algoritmo, onde não há frustrações, mas sim gratificações instantâneas”. Bem, esse é um lado da questão. E não é novo.

Desde Freud se sabe que, diante do trauma, a criança dissocia-se para á-lo, refugiando-se na neurose, uma estratégia de defesa. Pois, assim como a criança abalada pelo trauma, as pessoas, diante das escalabrosidades do mundo concreto, fazem igual: elas podem se retirar para o mundo virtual, guardando, daquele, uma distância.

O outro lado da questão, o reverso da moeda, é que, sem as novas tecnologias de comunicação, a voz traumatizada da sociedade permaneceria atravessada na garganta, sem chance de extravasar-se.

A possibilidade de expressão liberou uma carga de justos ressentimentos contra os limites da política, as injustiças, o teatro social. De súbito, tivemos uma ideia do tamanho da insatisfação com os sistemas de vida, ando publicamente a protestar, em alguns casos chegando à revolução, como ocorreu na Primavera Árabe, onde as redes sociais cumpriram um papel fundamental.

Pois não é por outra razão que os donos do antigo mundo estão incomodados e querem controlar a liberdade de expressão, especialmente a velha imprensa, os monopólios empresariais, os sistemas políticos totalitários. Enfim, todos aqueles para quem a internet e as redes sociais ameaçam seu poder, ao por de pernas pro ar as certezas convenientes sobre as quais se assentaram.

Fato. As inovações desarranjam os mercados e os modos de vida. Toda inovação faz isso. É o preço do progresso. Mas, assim como é impossível voltar ao tempo do telégrafo (imagine o desespero nas Bolsas de Valores), é impensável retroagir ao mundo exclusivo da prensa de Gutenberg. Porque as descobertas, afinal, permitem avançar nos arranjos produtivos: propiciam economia de tempo, dinheiro e, no caso da comunicação, ampliam a liberdade, seu bem mais precioso. Pode-se dizer que não estávamos preparados para tanta liberdade súbita, e que venhamos, neste momento, usando-a “mal”. Contudo, parece razoável dizer que, à medida que o tempo e, estaremos mais e mais preparados para lidar com a liberdade e seus efeitos.

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Com todos os defeitos que a vida tem, é preferível mil vezes, ao controle da palavra, a liberdade de dizê-la. Quem pode afirmar (ou julgar) o que é verdadeiro e o que é falso, senão as pessoas mesmas, em última análise, de acordo com suas percepções e as pedras em seus sapatos? Pois hoje, depois de provarmos a liberdade trazida pelas novas tecnologias, mais do que nunca sabemos que a imprensa, em sua mediação da realidade, é falha, e como o é!

É interessante (e triste) ver como, após a criação da internet e das redes, grande parte da imprensa, ao perder o monopólio da verdade, se vêm tornando excessivamente opinativa e crítica das novas tecnologias. Deveria, sim, era aprimorar-se no trabalho para prestá-lo melhor. Acontece que — eis o ponto — como a velha imprensa não é livre de fato, como depende do financiador, muitas vezes de governos, ela vê nas novas tecnologias de ampla liberdade uma ameaça à velha cadeia de produção acostumada a filtrar o que valia ser dito, e o que não valia, em seu óbvio interesse, hoje nu, como o rei da história.

Além de tudo, há essa coisa interessante: a percepção. Para alguns pensadores do novo mundo, o que chamamos de realidade é uma simulação, no que concordo. Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros, paladares etc. não existem no mundo concreto (são imateriais), sendo portanto simulações percebidas pelos sentidos (pessoas veem cores em diferentes matizes, quando não divergentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado exclusivo dos nossos sentidos. Assim, a única coisa real seria a razão. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. “Penso, logo existo”.

Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos com que amos o mundo concreto, estando entrelaçados, não haveria diferença entre eles. Logo, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor. Eu acredito que é assim.

Uma vez provadas as inovações, não é possível retroagir. Podemos, isso sim, é refinar, em decorrência delas, o nosso comportamento.

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Brasil e mundo 3m3y11

Vivendo em mundos paralelos 5z181m

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. Um mero buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima. Nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção numa área de vida e morte, como a de saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão nas percepções. Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, no essencial, nada muda em nossa realidade. Isso ficou mais evidente porque as redes sociais deram vazão, sem os filtros editoriais da imprensa, a um volume de problemas reais maior do que o que era noticiado. Se antes já havia demora nas soluções, essa percepção foi multiplicada pelo crescente número de denúncias feitas nas redes pelos próprios cidadãos. Os problemas que dizem respeito à coletividade se avolumam sem solução a contento, desconsolando e fatigando a vida.

Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

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Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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