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Opinião

Nota sobre a Havan e o Conselho de Cultura. Por Dan Barbier

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O presidente do Conselho de Cultura (Concult), Dan Barbier, publicou o texto abaixo com o título acima:

Tornou-se repetida a informação de que o Conselho de Cultura de Pelotas estaria impedindo a vinda da Havan para cidade. Inclusive com manifestação do próprio dono das lojas que acusou o Conselho de estar sob ingerência de partidos políticos e coisas incabíveis do tipo. Mas será verdade?

No início de março, o Conselho de Cultura foi convidado pela Câmara de Vereadores para se manifestar sobre a alteração de uma lei que dizia respeito ao Hipódromo da Tablada, que é um bem patrimonial inscrito na Secretaria de Cultura de Pelotas. A manifestação, eminentemente técnica, apontou problemas na redação da nova lei. O problema técnico, então, deveria ser resolvido de forma técnica: ou corrigindo a redação da lei ou alterando as demais leis municipais de forma a não criar nenhum tipo de conflito jurídico logo adiante, como veio a ocorrer. Mas não foi o que aconteceu.

Na pressa de fazer as coisas, as fizeram malfeitas. Pior: à margem da lei. Não observaram a legislação geral, nem o Plano Diretor da Cidade que no seu artigo 70 apresenta a seguinte diretriz para o Hipódromo: “manutenção da área como espaço aberto, preservando as edificações com suas características arquitetônicas existentes. Proibição de parcelamento do solo”. Na tentativa de infringir a lei, causaram um problema maior ainda para cidade. O caso foi parar no Ministério Público, que está analisando o caso, averiguando o projeto e o contrato assinado.

Nisso, faz quase dois meses que a questão está travada. Não por causa do Conselho de Cultura, que elucidou o problema criado, mas por causa da tentativa exaustiva de colocar os interesses privados sobre os interesses públicos.

Veja o parecer em que se baseou a denúncia do Concult ao MP

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O Conselho de Cultura, que se colocou à disposição para ajudar a resolver os problemas que outros tinham causado quando chamado pela Câmara de Vereadores, na tentativa de achar uma solução dentro da lei, ao cumprir seu papel, foi escolhido como alvo para que a história tomasse outro rumo, o da perseguição política. Isso não se deu ao acaso. Foi muito bem pensado e articulado.

É verdade que existe uma legislação que dificulta a instalação da Havan no Hipódromo. Mas é verdade também que não existe nenhuma outra lei que impeça seu estabelecimento em qualquer outro terreno da cidade. Com tantos terrenos baldios e livres, porque a insistência em sua instalação no Hipódromo, cuja proteção jurídica, criada pelo próprio Jockey e pela Câmara em 2001, restringe as possibilidades do empreendimento? Cito as leis municipais 4673/2001 e a 4740/2001.

Vale frisar que a competência sobre essa legislação não é do Concult, mas da Câmara de Vereadores e da Prefeitura de Pelotas. Se o interesse é deles, porque não apresentam uma solução para o problema ao invés de desviar o foco culpando o Concult por isso e por aquilo.

Se a questão fosse só a mera vontade do Conselho de Cultura, como querem fazer crer que seja, a coisa já tinha se resolvido num estalar de dedos. Mas a história está provando que não é bem assim. Com tantos órgãos grandes e poderosos com interesse nesse empreendimento, não seria o Concult a pedra no sapato nessa história.

Não vamos deixar que polarizem algo que não deve ser polarizado. Se a Prefeitura e a Câmara querem de fato a Havan na cidade, que disponibilizem outro terreno ou resolvam o problema jurídico desse. Se a Havan quer “salvar” o Hipódromo, que destine parte dos 30 e poucos milhões prometidos para a modernização e qualificação necessárias naquele espaço. Serão muito bem vindos!

Não nos deixemos levar por notícias enganosas, nem sermos usados como massa de manobra.

Pelotas merece mais!

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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