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Opinião

O homem moderno vive sem Sartre

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Vi no face de uma amiga a legenda e a foto deste post.

Primeiro, legenda e foto, depois comentário meu:

Da esquerda para a direita (em pé): Jacques Lacan, Cecile Eluard, Pierre Reverdy, Louise Leiris, Pablo Picasso, Zanie Campan, Valentine Hugo, Simone de Beauvoir e Brassai. Abaixados: Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Michel Leiris e Jean Abier. “Turminha fraca”.

Meu comentário:

Todos os artistas e escritores da fotografia, uns mais, outros menos, foram muito interessantes, alguns brilhantes, como Picasso, que inovou nas formas, ajudando a sedimentar a ideia de que a imagem é maior que a palavra, no sentido de sobreviver como testemunho definitivo da expressão. Foram muito interessantes no seu tempo, a maioria deles.

irando com olhos puros as pessoas na fotografia, vagamente lembrando tudo que produziram à conta de inquietações premidas pelo seu tempo, elas permanecem entre nós como um registro da atribulação humana. Podemos amá-los, porque nos ajudaram, com seus ímpetos, a estimular e elevar nossas percepções; a rigor, e aí entra o x da questão, nada mais que isso.

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Ninguém está a menosprezar quem quer que seja. Ele foram bons e úteis para a humanidade.

Mas note: o apressado homem online do nosso tempo segue vivendo, mal ou bem, mesmo sem ter tido conhecimento da turma da foto. Vive o hoje, e é um pouco uma barbaridade concluir que pode ar bem, obrigado, sem ter compreendido Sartre ou um quadro de Picasso.

Não devemos desesperar, entretanto.

O surrealista Buñuel, por exemplo, odiava museus.

Se não me engano, o espanhol entendia que a arte que deve importar é a do nosso tempo cronológico, porque exprime o nosso estado atual, as perturbações que pressionam a vida em vida. Opinião de surrealista precisa ser pensada sempre com carinho, sabes!

Apesar dos artistas de sensibilidade do ado, o fato é que permanece em nós uma angústia quase palpável nos perturbando e empurrando para alguma coisa, reações, realizações, procuras pessoais, expressões em todos os campos, em formas variadas, remordimentos, como dão fartos testemunhos hoje as múltiplas mensagens nas redes sociais, comunicadas um pouco como sinais sonoros enviados ao espaço sideral, na esperança de contatar outras formas de vida.

CHAPLIN

Como os amigos sabem, sou fã de carteirinha de Chaplin. Por algum motivo, da galeria dos artistas, eu o elegi como superior.

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O Vagabundo me parece ETERNO, **eNTraNhaDo**de**humanidade**.

Nunca antes de Chaplin um artista havia feito o que ele fez, nem depois.

Ao mirar com toda a nossa atenção para o homem e os modos de ser do homem que concebeu a figurinha patética do Carlitos em suas desventuras, temos a impressão de estar diante de uma pessoa que tocou a essência dos homens, como no quadro da Criação.

Tocou o dedo de Deus

Além disso, Chaplin, tb compositor de talento, não é só cinema; a obra do baixinho tem um pouco de todas as artes mescladas, além de originalidade, inovação, ideário próprio, tudo devidamente processado, e muito bem embalado em sentimento, sem ser vulgar.

[ Todo um Mundo Pessoal e à parte ]

Acredito que, mesmo hoje, tantos anos depois de sua morte, Chaplin me permanece vívido, próximo de mim, porque expressa a miséria humana como graça, algo que se comunica imediatamente com qq pessoa e atravessa as épocas. Não é preciso ouvir uma palestra nem ler uma linha de livro para entender o que Chaplin tem para nos dizer em silêncio.

Aí está o que se costuma chamar de genialidade, mas que eu chamaria de sentimento.

Tenho como certo que o malandro alcançou o (âmago) do que nos aflige, pela emoção, não pela razão, e que, fascinante, em vez de ficar triste, tratou de rir e nos fazer rir tb. Não consigo imaginar presente maior de um artista que te dá esperança, mesmo que não esconda a realidade, o que, desde logo, faz dele uma pessoa especial.

Sem sentimento, uma pessoa não tem nada. Se houver sentimento, tudo se resolve; em termos, mas se resolve.

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No começo do século 20, Chaplin também já nos “alertava”, e antecipava, que a imagem se sobrepõe (poria) à palavra, como vemos hoje no mundo conectado em rede, tanto que ele nem fala em seus filmes, só foi falar por força do mercado do cinema falado, mesmo assim resistiu uns dois filmes, com grande bilheteria, inclusive sua obra-prima, Luzes da Cidade.

Ele dizia que se o Vagabundo “falasse” estragaria tudo. Acabou estragando, mas não de todo, realizou boas obras, mesmo sem poder se calar, como era de sua preferência.

Só foi falar nos filmes por razões comerciais. Artisticamente falando, tinha que calado, sendo poeta, ele ganhava mais.

Falando, virou ‘filósofo’, meio chato, chato demais, como em Luzes da Ribalta. Mas, obviamente, há muito ele sabia que já estava perdoado, provavelmente desde o dia em que nasceu na miséria, no século retrasado, na vitoriana Londres.

Voltando ao mundo das ideias, motivo deste artigo, pode ser muito interessante, mas, se não houver emoção, é só isso, razão, e, sendo assim, não vinga muito tempo, é ageiro, mortal.

Chaplin é imortal porque processou a dor e fez dela sua saída. Chorou em público, embora muitos possam não ter percebido, e, claro, se tu pensar bem, vai ver que não há coisa mais bela do que isso.

Há qualquer coisa de messiânica na mítica figura do Chaplin. Como se repetisse Jesus, mas se incluísse: “Perdoe-nos, pai, nós não sabemos o que fazer”. Como se dissesse pra gente: “TAMO JUNTO. Não vamos nos levar a sério, desesperar. Vamos nos divertir”.

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Por isso eu gosto tanto dele, ao ponto de tatuá-lo no braço segurando uma flor.

https://youtu.be/EZ995ub3aXc

© Rubens Spanier Amador é jornalista.

Facebook do autor | E-mail: [email protected]

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Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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