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Opinião

‘Green book, o guia’, um favorito do Oscar

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https://youtu.be/NwyeDErhF2Y

Indicado a cinco Oscars e um dos meus favoritos ao prêmio, Green Book: O Guia mostra a amizade, inicialmente inusitada, entre Tony Lip (Viggo Mortensen), um ítalo-americano que trabalha como segurança em uma casa noturna, mas que agora precisa de trabalho após sua discoteca, o Copacabana, fechar as portas, e Dr. Don Shirley (Mahershala Ali), um conceituado pianista negro.

O encontro entre os dois é devido ao fato de que o artista precisa de um motorista, e também de um assistente e segurança, uma vez que tem uma turnê marcada pelo sul dos Estados Unidos, no início dos anos 60.

Até o final dos anos 60, os afrodescendentes que precisavam viajar ao sul do país precisavam lidar com a segregação racial, sendo chamados de pessoas “de cor”. Para ajudá-los foi criado o “Green Book”, um guia de viagem que trazia uma lista de restaurantes e hotéis que aceitavam afro-americanos.

Conhecido pela direção de comédias de sucesso como Debi & Lóide, Quem Vai Ficar Com Mary? e Eu, Eu Mesmo & Irene sempre na companhia do irmão Bobby, Peter Farrelly faz sua estreia como diretor-solo. O diretor acerta em cheio ao equilibrar drama e humor em uma trama que cativa e emociona.

O roteiro de Farrelly, Nick Vallelonga (filho de Tony na vida real) e Brian Hayes Currie mostra uma história real, porém as famílias dos dois protagonistas têm opiniões diferentes sobre o assunto. O longa é acusado de imprecisões históricas pelo seu retrato da situação do sul dos EUA na década de 1960 e também pela amizade entre os dois, que membros da família do músico dizem nunca ter existido.

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Apesar da pesada temática racial, Green Book trilha por um caminho mais leve, focando em uma road trip entre duas personalidades opostas que se tornam grandes amigos. É claro que a mensagem está lá, mostrando como os negros sofreram (e infelizmente ainda sofrem) com o preconceito até hoje, mas isso é mostrado de maneira sutil e nunca exagerada no filme.

Um destaque é a recriação da época, cujo design de produção reproduz tudo com muito charme e pela trilha sonora com canções de Little Richard, Aretha Franklin, Frank Sinatra e Nat King Cole.

O “ignorante” e o “arrogante”

Viggo Mortensen interpreta um Vallelonga ignorante, porém doce. Tão complexo quanto o pianista, ele consegue o que quer na conversa, mas quando necessário não hesita em usar a força para resolver conflitos. Um personagem que comete uma atitude racista (algo que é mostrado logo nas primeiras cenas) e que vai se transformando em uma pessoa cujos preconceitos e paradigmas vão sendo quebrados aos poucos. Essa transformação e alguns quilos a mais para o papel renderam ao ator a terceira indicação ao Oscar, em uma das melhores atuações de sua carreira.

O magnífico Mahershala Ali vive um personagem que começa arrogante por não se encaixar nas expectativas da sociedade para um homem com o seu talento e a sua cor. Prestes a entrar em turnê com o “Don Shirley Trio”, o fino e disciplinado artista sabe que as leis e os hábitos dos preconceituosos sulistas significam um alto risco para os negros. Shirley é, acima de tudo, um personagem contido e um homem que precisa se provar para o mundo e para ele mesmo. Em sua segunda indicação ao Oscar, Ali deve (e merece) vencer na categoria de melhor ator coadjuvante.

Com uma dinâmica perfeita entre dois atores fantásticos, Green Book: O Guia é um filme cheio de charme e humor. Simplesmente imperdível!

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Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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