Connect with us

Opinião 4d6u6w

Bird box, sucesso de audiência, mas imperfeito 1co2h

Publicado

on

Fenômeno de popularidade do Netflix, Bird Box tornou-se o filme original mais assistido da plataforma durante a semana de estreia. Definitivamente, um sucesso incontestável.

Adaptação da obra de Josh Malerman, o filme acompanha Malorie (Sandra Bullock) e seus filhos que, em um mundo pós-apocalíptico, precisam de um abrigo seguro para escapar de criaturas que ao serem vistas fazem as pessoas se tornarem extremamente violentas, a ponto de cometerem suicídio. De olhos vendados, a família segue o curso de um rio para chegar em segurança.

No início da trama, a protagonista, solteira e grávida de um bebê indesejado, comenta a decisão de nunca mais sair de seu apartamento. Ela não é muito diferente do arinho preso em uma gaiola, em uma metáfora bastante óbvia do aprisionamento.

Acompanhada por sua irmã Jessica (Sarah Paulson) para fazer um exame de rotina, vemos Malorie fria e indiferente, que demonstra até mesmo temer não amar o filho que carrega em seu ventre. Isso contrasta imediatamente com a figura materna e protetora que vimos na cena de abertura, deixando claro desde o início que o filme explora a jornada da protagonista para experimentar o amor de mãe.

Bird Box é, acima de tudo, um filme sobre maternidade.

Assistimos a duas linhas narrativas acontecendo em momentos temporais distintos. No início e durante o surto inicial, com Malorie confinada em uma casa com outros sobreviventes, e cinco anos depois com Malorie e as crianças no rio. A ideia é ver o mundo pelo presente e então retornar ao ado para entender como tudo ficou daquele jeito. É um artifício interessante, porém mal planejado e que acaba entregando o destino da grande maioria dos personagens.

Publicidade

Na casa, pessoas diferentes entre si fazem surgir conflitos tanto por suas personalidades quanto pelos planos de ação. São coadjuvantes rasos, com a exceção de Olympia (Danielle Macdonald), a outra mãe de primeira viagem, e Tom (Trevante Rhodes), ambos desenvolvidos apenas com o objetivo de aflorar o amor materno em Malorie. Neste cenário, quase todos os personagens são sem graça, com peculiaridades forçadas e repetitivas. O único destaque fica para o magistral John Malkovich, interpretando Douglas, o desprezível dono da casa onde todos estão refugiados.

A diretora dinamarquesa Susanne Bier e o roteirista Eric Heisserer não se apegam muito na origem da epidemia, e apenas reproduzem a contaminação repentina, com direito a muito caos e todo o contexto pós-apocalíptico. Ainda que breves, são cenas visualmente impactantes.

Sem explicação, os sobreviventes deduzem com extrema facilidade que a ameaça se encontra em olhar para uma presença maligna invisível, razão pela qual precisam vendar os olhos em espaços abertos. Eles nem sequer se preocupam em investigar ou então em caçar a origem do perigo.

O longa opta por explorar a relação da protagonista com as crianças e a luta pela sobrevivência. Por um lado, a ideia da claustrofobia a céu aberto, a dificuldade de remar com os olhos vendados e explorar uma floresta sem vê-la já provoca por si só bons momentos de tensão. Por outro lado, a trama abusa dos clichês e da inteligência do espectador, com uma gravidez dupla (com direito a partos simultâneos), um casal improvável, traição e imprudência dos membros do grupo.

Vale ressaltar outra produção recente do gênero que também priva seus personagens de um de seus sentidos. Um Lugar Silencioso mostra personagens que precisam ficar em silêncio absoluto. Ambos acertam pela tensão palpável, e Bird Box opta por fazer o uso da nossa própria imaginação, sem mostrar as criaturas e apresentando apenas sua sombra. Ainda assim, o filme de John Krasinski é muito superior ao de Susanne Bier.

Em sua conclusão, Bird Box privilegia o drama, enxergando o que restou da humanidade com otimismo. Um filme com qualidades, mas que acaba decepcionando pela grande expectativa gerada e pelas oportunidades desperdiçadas.

Publicidade

Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

Publicidade
Clique para comentar

Cancelar resposta 3f472d

Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

Publicado

on

Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

Publicidade

Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

Continue Reading

Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

Publicado

on

Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

Publicidade

A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

Publicidade

Continue Reading

Em alta 43506z

Copyright © 2008 Amigos de Pelotas.

Descubra mais sobre Amigos de Pelotas 164y3d

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter o ao arquivo completo.

Continue reading