Connect with us

Opinião 4d6u6w

Cinema: Roma 5x174

Publicado

on

É muito especial assistir um dos maiores diretores da história no auge de sua carreira. Estou falando do mexicano Alfonso Cuáron, que relembra o bairro onde cresceu, na Cidade do México, para contar uma história emocionante e lindamente filmada em preto e branco em uma homenagem ao matriarcado e as mulheres que moldaram sua infância.

Autor de filmes como Filhos da Esperança, Gravidade e responsável ainda por Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, o cineasta volta a filmar em espanhol, algo que não fazia desde E Sua Mãe Também. Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, Roma estreou na Netflix no dia 14 de dezembro.

Ambientado na década de 70, Roma mostra a rotina de uma família de classe média controlada de maneira silenciosa por Cleo (Yalitza Aparicio), que trabalha como babá e empregada doméstica. Durante um ano, diversos acontecimentos inesperados começam a afetar a vida de todos os moradores da casa.

Cleo é na verdade, Libo, a babá de origem indígena de Cuarón que faz parte de sua vida desde os seus nove meses. No longa, ela ganha os traços da revelação Yalitza Aparicio, em seu primeiro trabalho como atriz. De mesma origem, do vilarejo Oaxaca, Aparicio possui a pele morena e as feições características, trazendo toda a delicadeza na fala e na linguagem corporal doce. À medida que lida com suas adversidades, Cleo nunca deixar de criar os pequenos filhos de Sofia (Marina de Tavira). De maneira simples, o diretor nos convida para os corredores de sua casa, como se revivesse sua própria infância.

Dirigido, escrito, produzido, fotografado e montado por Cuarón, o filme reconstrói o primeiro e doloroso amor da protagonista, recorda o divórcio de seus pais e homenageia a mulher que tantas vezes assumiu a figura materna em sua vida. Com um roteiro simples e poético, Roma é uma verdadeira carta de amor.

O filme explora a vida de duas mulheres opostas que, embora convivam no mesmo espaço, estão separadas por um abismo social gigantesco. Enquanto Cleo não tem nenhuma perspectiva além dos afazeres de casa, Sofia está desesperadamente aflita, precisando lidar com as novidades em meio ao abandono de seu marido. Apesar dos acontecimentos, são duas mulheres independentes e extremamente fortes.

Publicidade

Como mencionei anteriormente, a câmera de Cuarón nos leva a ear em cena. Sem movimentos bruscos, o deslocamento é suave, optando por quase sempre fixar a câmera e movimentá-la levemente. São raros os momentos em que a câmera não está parada em um ponto fixo. Nem mesmo em situações mais trágicas, como na reprodução do El Haconazo, uma chacina de estudantes que manifestavam contra o governo.

De professora a atriz, Yalitza Aparicio é impecável em sua caracterização, em uma atuação inesquecível. Doce e tímida, a personagem é composta com muito capricho e cheia de nuances, mas sua força está no silêncio. Entre as muitas sequências memoráveis, a cena da praia é de partir o coração.

Além das atuações sensíveis e realistas e do roteiro original intimista e cheio de preciosidades, o filme se destaca ainda por apresentar uma fotografia belíssima que, na impossibilidade de ser realizada pelo amigo Emmanuel Lubezki (tricampeão do Oscar), foi produzida pelo próprio Cuarón, aproximando-o ainda mais de sua obra.

Impecável em todos os sentidos, Roma comove com uma história ricamente pessoal. Uma crônica da vida real que é uma ode ao amor. Uma obra-prima!7

Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

Publicidade
Clique para comentar

Cancelar resposta 3f472d

Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

Publicado

on

Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

Publicidade

Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

Continue Reading

Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

Publicado

on

Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

Publicidade

A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

Publicidade

Continue Reading

Em alta 43506z

Copyright © 2008 Amigos de Pelotas.

Descubra mais sobre Amigos de Pelotas 164y3d

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter o ao arquivo completo.

Continue reading