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O momento posterior ao final dos grandes eventos, como uma Copa do Mundo, uma eleição, como a que tivemos há pouco, é um pouco triste – algo como o fim do ato sexual, quando os amantes se estiram na cama e acendem um cigarro.
Hoje, em vez de fumar tabaco, consultam o whatsapp por um instante, mas o clima é o mesmo: tudo fica mais lento, submergimos numa suave melancolia, como quando voltamos sozinhos de uma festa.
Talvez a maioria se sinta assim, mesmo os candidatos que vencem, pois de repente acaba aquela sensação de presente perene, de tempo suspenso e de expectativa que uma campanha eleitoral incute.
Não é exagero dizer que o clima de uma eleição é um pouco o de uma guerra, no sentido do “prazer”.
Outro dia deparei com uma observação curiosa, mas verdadeira, como podemos deduzir, nós que acabamos de viver uma eleição conflagrada como nunca. “Uma das coisas mais odiosas de uma guerra é que, exceto a morte, tudo nela é bom”.
Sem sombra de dúvidas, pode-se dizer o mesmo de uma eleição.
Numa eleição, como numa guerra, por um período, as diferenças cedem lugar a alianças em torno de um objetivo comum – “derrotar o inimigo”.
É uma espécie de game que anima as pessoas, dá-lhes paixão pela expectativa, fazendo-as esquecer de seus problemas. Temos a sensação de que, ao optarmos por um lado, nossa identidade é reforçada e nossa vida vale um pouco mais do que a vida que levamos, muitas vezes anônimos, num cotidiano maçante.
O problema é que, como na guerra, quando uma eleição termina, há um vencedor apenas e, infelizmente, sempre restam alguns corpos e grandes esperanças perdidas pelo caminho, entre os escombros de fato ou simbólicos.
Quando os confrontos acabam, o vitorioso faz o discurso clássico de “união” por algo maior, em nome de um país, de uma cidade. É então hora de voltar à realidade, pegar no pesado de novo, os problemas continuam lá, contas a pagar. Por isso, lá no fundo, creio, perdedores e vencedores sentem uma certa tristeza na hora de recolher as armas.
Curiosamente, no fim dos confrontos, como do orgasmo, a aparente dissolução das diferenças sociais e individuais, aquela comunhão que une as mentes e os corpos no intercurso, deixa de existir. Então, todo o frenesi daquele que se entregou ao encontro com o outro retorna ao ponto de partida, como quem acorda depois de fazer amor.
Como diz o ditado, dormindo, o homem é um rei; acordado, é um mendigo.
Nos dias seguintes, porém, como ainda agora, sobrevive na memória aquele momento maravilhoso da “guerra”, em que acreditamos, mesmo por ilusão, que “lutávamos” por algo superior às nossas pequenas ambições terrenas.