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Cinema: Infiltrado na Klan 1y253i

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Um dos grandes ícones do cinema, o diretor Spike Lee tornou-se um representante do cinema social e racial graças a filmes como o emblemático Faça a Coisa Certa (1989) e Malcolm X (1992). Responsável por abordar temáticas relevantes (e ainda atuais) em seus filmes, Lee está em sua melhor forma com Infiltrado na Klan, um longa questionador, desconfortável e até perturbador.

O novo trabalho do diretor faz com que reflitamos com temas que, infelizmente, ainda precisam ser reforçados. Agora mais do que nunca.

Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington) é um policial negro do Colorado que conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan. Ele se comunicava com os membros do grupo através de telefonemas, e quando precisava estar fisicamente presente entrava em cena o seu parceiro, o policial branco Flip Zimmerman (Adam Driver).

Depois de meses de investigação, os dois chegaram aos níveis mais altos da KKK e Stallworth se tornou líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de crimes de ódio orquestrados por uma organização fortemente armada.

Absurda e incrível, a trajetória de Ron Stallworth é uma história real, baseada em seu livro homônimo. A trama explora a horrenda Ku Klux Klan, organização racista de extrema direita, que possui adeptos até hoje.

Paralelamente, o diretor evita criar heróis e vilões. Este é um filme que aborda ideias racistas muito mais do que as pessoas racistas em si. Para completar o discurso, ataca o cinema segregacionista, cujo principal ícone é O Nascimento de uma Nação (1915) e homenageia o cinema “Blaxploitation”. É impressionante como que, dentro de uma comédia, Spike Lee consegue debater questões tão complexas.

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No elenco, um inspirado John David Washington transmite os diferentes níveis de raiva e ironia diante dos inimigos e Adam Driver prova que se adapta a qualquer papel, mostrando porque é um dos grandes nomes da atualidade. De postura frágil e olhar suave, Topher Grace vive com propriedade o fascista David Duke. Além disso, temos a participação do lendário Harry Belafonte, em uma sequência de arrepiar.

Exímio contador de histórias, Spike Lee escolhe usar a comédia como meio para contar a sua história. Misturando tensão racial com uma verdadeira “comédia do absurdo”, o diretor cria uma obra que recria perfeitamente os anos 70, seja pelo uso das cores, fotografia, trilha sonora (com direito a uma música inédita de Prince) e figurino, principalmente nos momentos do casal interpretado por Washington e Laura Harrier.

Quarenta anos depois, é assustador que pouca coisa tenha mudado desde então, visto que o racismo está cada vez mais presente nos dias de hoje. O filme mostra como Donald Trump deu espaço para que o preconceito tomasse as ruas novamente, validando comportamentos que antes eram vistos como abomináveis.

Em tempos onde a segregação velada cresce cada vez mais, vemos o verdadeiro David Duke citar o presidente norte-americano como exemplo, e tornando comícios como o de Charlottesville, em 2017, um exemplo disso.

Infiltrado na Klan é um dos melhores trabalhos da carreira de Spike Lee. Muito mais que entretenimento, é um filme extremamente necessário e que encerra com uma mensagem importante para os dias de hoje.

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Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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