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Opinião

Bohemian Rhapsody, a imperdível cinebiografia de Freddie Mercury e do Queen

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É difícil encontrar, nos dias de hoje, uma banda que inspirou tantas pessoas como o Queen. Grande parte do sucesso e do magnetismo da banda era, sem dúvidas, graças ao seu vocalista Freddie Mercury. Com uma personalidade única, Mercury encantou multidões com sua voz inconfundível e mudou o mundo da música para sempre. Com um título que homenageia o maior clássico do Queen, Bohemian Rhapsody coloca em foco a vida de seu ídolo.

Durante a década de 70, Freddie Mercury (Rami Malek) se aproxima dos músicos Brian May (Gwilym Lee), Roger Taylor (Ben Hardy) e John Deacon (Joseph Mazzello), formando com eles o Queen. Vimos a trajetória da banda desde sua formação, quando Freddie, então chamado de Farrokh Bulsara, conheceu seus colegas de banda quando ainda faziam parte do trio Smile, até a inesquecível apresentação no Live Aid em 1985.

O filme ou por dificuldades durante seu processo de produção, com o diretor Bryan Singer demitido e substituído por Dexter Fletcher. Apesar de trazer Brian May e Roger Taylor como consultores criativos, o filme foge da realidade diversas vezes. Além de errar na origem da banda, o longa peca ao afirmar que Freddie Mercury deixou o Queen para lançar uma carreira solo, quando na realidade outros membros seguiram carreira solo antes dele, como o baterista Roger Taylor. Além disso, o filme cria um melodrama forçado ao usar o diagnóstico de HIV do vocalista para justificar a reunião da banda e fazer o show histórico no Live Aid. A verdade é que Mercury não sabia que estava infectado com o vírus quando realizou o show em 1985, pois só foi diagnosticado com a doença em 1987.

O fraco roteiro de Anthony McCarten apressa a maioria dos acontecimentos, principalmente em sua primeira metade. Em pouco tempo, a banda já está formada, fazendo sucesso e lotando estádios, sem que sequer conheçamos as dificuldades enfrentadas até que eles alcançassem o sucesso. A partir da segunda metade, a narrativa começa a direcionar seu foco para a vida de Mercury, mostrando sua longa relação com Mary Austin (Lucy Boynton), sua esposa e amiga até a morte, e a descoberta de sua sexualidade e, também, algumas de suas angústias. Outro ponto que poderia ter sido melhor abordado é o relacionamento amoroso com Jim Hutton (Aaron McCusker), parceiro de Freddie Mercury em seus últimos anos de vida e que cuidou do músico durante toda sua doença.

Com uma caracterização impecável dos anos 70, 80 e início dos 90, a sensação é de que realmente estamos fazendo parte de uma jornada. A ambientação e os figurinos estão espetaculares, principalmente nas roupas do vocalista, que exploram todo seu estilo único e excêntrico. O diretor de fotografia Newton Thomas Siegel consegue, através de uma iluminação perfeita, evocar o semblante de Freddie Mercury e tornar Rami Malek ainda mais parecido com o cantor. A semelhança é assombrosa em vários momentos.

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Infelizmente, o filme não apresenta como gostaríamos o modo de criação das letras e melodias do Queen. Entretanto, a sequência da gravação de “Bohemian Rhapsody” é uma das melhores do longa, com a incessante busca de Mercury pelo ‘Galileo’ perfeito de Roger Taylor ou o som de guitarra cada vez mais forte que Brian May pudesse alcançar. Vemos também cenas que exibem os bastidores de canções como “We Will Rock You” e o clássico videoclipe de “I Want To Break Free”. Porém, alguns momentos de criatividade soam forçados, como quando John Deacon cria o riff inicial de “Another One Bites the Dust”.

Queen: campeões

Para a árdua (e aparentemente impossível) tarefa de interpretar Freddie Mercury, temos um Rami Malek simplesmente incrível. O ator conseguiu captar todos os gestos e trejeitos do cantor, em uma performance digna de Oscar e que vai além da caracterização física com o bigode e os óculos escuros. Sua sintonia com Freddie Mercury pode ser comparada com as cenas reais do Live Aid, quando percebemos nitidamente a força da interpretação e da presença de cena de Rami Malek. Ao seu lado, Lucy Boynton está ótima como a grande inspiração para “Love of My Life”, em sequências carregadas de emoção e intensidade.

Freddie Mercury

Basicamente composta de músicas do Queen, a trilha sonora certamente emocionará, em especial na belíssima sequência em que ouvimos “Who Wants To Live Forever”. Entre as performances que o filme acertadamente faz questão de explorar, está a maravilhosa “Love of My Life” no Rock in Rio de 1985, com o público inteiro cantando e que arrepiou até Freddie Mercury, e, claro, “Bohemian Rhapsody” em sua versão completa no Live Aid. Ainda na trilha, músicas inesquecíveis como “Somebody to Love”, “Crazy Little Thing Called Love”, “Under Pressure”, “Radio Ga Ga”, “Don’t Stop Me Now” e os créditos ao som de “The Show Must Go On”.

Licenças poéticas à parte, Bohemian Rhapsody é uma grande celebração da vida e do talento de Freddie Mercury. Um espetáculo imperdível!

Déborah Schmidt é servidora pública formada em istração/UFPel, amante da sétima arte e da boa música.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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