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Infelizmente denúncias em Pelotas parecem estrelas cadentes 3a1i62

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Há um problema central com as denúncias envolvendo o poder público pelotense. Por tradição, o destino da esmagadora maioria, mesmo as graves, como os supostos exames fraudados de Papanicolau, tem sido o mesmo das estrelas cadentes: clarão intenso, mas breve. Esse efeito ocorre mesmo com aquelas denúncias que possuem maiores indicativos de consistência.

Diante da falta prática de resultados para a solução dos problemas, as denúncias parecem surgir em cena apenas como benefício de uma “Cadeia de Produção de Boas Intenções”.

Vários atores ganham – não por mal – com a exposição de um problema. É normal. Vereadores ganham um justo palanque. Jornalistas ganham uma importante notícia. Pessoas carentes ganham recompensadores minutos de fama emitindo opinião ao microfone de audiências com vereadores transmitidas pela TV Câmara. Também os maluquinhos “do discurso” ocupam o microfone dos carentes para performances que lembram líderes populistas do ado, caprichando no gestual e nos adjetivos.

Em geral os atores mais sem graça desse cenário são as autoridades, é claro, já que a elas é reservado o incômodo papel de “ter que dar explicações”. “Onde já se viu isso?”, algumas provavelmente pensem, embora “isso” se veja em muitos lugares civilizados. Nos países escandinavos, por exemplo, uma autoridade é tratada como igual pelo cidadão, coisa muito diferente do que ocorre no Brasil, onde sabemos muito bem como costuma ser.

Nesta semana, a secretaria de Saúde Ana Costa foi inquirida por vereadores sobre o suposto desvio de combustível e adulteração da quilometragem de ambulâncias do Samu. Deu explicações convencionais, prometeu providências, mas não desmentiu as acusações, como se esperaria de um governo no controle de sua gestão.

A mais recente denúncia, desta semana, dá conta que o laboratório contratado do Município para fazer exames de Papanicolau estaria examinando por amostragem e não na totalidade, como deveria.

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Pela denúncia, supostamente de uma enfermeira identificada em matérias por “J.”, milhares de mulheres que solicitaram preventivos de câncer através da prefeitura estariam recebendo resultados de “negativo”, sem que o exame tenha sido feito de fato.

Ana ainda não foi ouvida em audiência pública sobre esse tema. Mas, igualmente, nas declarações que deu sobre o caso, não foi capaz de refutar a acusação. Limitou-se a dizer que o caso será apurado, e a primeira coisa que anunciou foi um pedido ao laboratório das planilhas dos exames, como se isso fosse suficiente.

É certo que os pelotenses atentos se deram conta da gravidade da denúncia feita pela enfermeira “J.” Disse ela a um jornal: “Desconfiamos dos resultados dos exames, pois os laudos vinham sempre do laboratório com o mesmo resultado: normal. Isso não é possível, já que algumas pacientes apresentavam lesões aparentes, ao ponto de justificar o pedido de exame”.

Com talentos de investigadora, J. diz que fez uma “marca” nas requisições de exame para pacientes visivelmente com lesões no útero, antes de enviá-las ao laboratório. “As requisições voltaram sempre com o resultado normal’” para câncer, enquanto várias das pacientes estejam chegando ao Hospital da UFPel em estágio avançado de metástase”, disse “J”.

Outra “enfermeira anônima” relata que as repetições de normal vêm ocorrendo nos últimos seis anos. “Até então as mulheres de Pelotas apresentavam índices de câncer semelhantes ao resto do Brasil, mas nos últimos anos eles caíram para quase zero, isso não é real”.

É uma denúncia grave que deveria provocar reações imediatas do prefeito da vez, na mesma urgência aplicada, por exemplo, pelo então prefeito Eduardo Leite após a tragédia da Boate Kiss. Para que as mortes não se repetissem aqui, ele convocou uma força-tarefa com bombeiros etc. para rear os planos de prevenção a incêndio. Com o tempo, a boa intenção se perdeu na burocracia, mas a lembrança que ficou foi de um governante – naquele momento – atento e responsável com a coisa pública, algo que não se tem repetido no governo de sua sucessora.

Uma denúncia como esta deveria exigir uma reação firme do governo.

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Como não desmentiu a denúncia, porém, a impressão é de que a fiscalização oficial não tem controle sobre os exames. O fato de não ter preocupação sequer com este ponto explica, provavelmente, porque a prefeitura não cria uma controladoria para combater a corrupção. Promotores de justiça tb não parecem rigorosos na detecção e na apuração dos casos.

PS: Depois de publicado este artigo, o leitor Antônio Mayer comentou, me corrigindo: “A prefeitura tem sim uma controladoria para combater a corrupção e os desvios de conduta dos servidores. Se chama “Unidade Central de Controle Interno – UCCI” e está vinculada ao Gabinete da Prefeita. A UCCI tem por obrigação elaborar pareceres sobre denuncias encaminhadas ao setor e torná-las públicas. O problema é que esta informação não é disponibilizada. É para consumo interno, ou seja, não tem transparência”.

Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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2 Comments

2 Comments 1p2p20

  1. Antônio

    13/07/18 at 19:03

    Rubens! A prefeitura tem sim uma controladoria para combater a corrupção e os desvios de conduta dos servidores. Se chama “Unidade Central de Controle Interno – UCCI” e está vinculado ao Gabinete da Prefeita. A UCCI tem por obrigação elaborar pareceres sobre denuncias encaminhadas ao setor e torná-las públicas. O problema é que esta informação não é disponibilizada. É para consumo interno, ou seja, não tem transparência. Qualquer cidadão tem direito a cópia destes pareceres, talvez se a imprensa solicitar oficialmente eles liberem. São inúmeras as denuncias sobre condutas inapropriadas de servidores de carreira e comissionados que são literalmente arquivadas dentro de gavetas. Se o Ministério Público se interessar pelo assunto com certeza vai descobrir que roubo de gasolina de ambulância não é nada mais que brinquedo de criança perto do que acontece.

    • Rubens

      15/07/18 at 07:50

      Obrigado pela informação. Foi acrescentada ao texto. Abraço.

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Brasil e mundo 3m3y11

Vivendo em mundos paralelos 5z181m

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Algo mudou na relação entre o jornalismo e os pelotenses. Até por volta de 2015, havia um marcado interesse nos assuntos da cidade. A mera notícia de um buraco, e nem precisava ser o negro, despertava vívida atenção. Agora já ninguém dá a mínima, nem mesmo se o buraco for um rombo fruto de corrupção na área sensível da saúde. O valor da notícia sofreu uma erosão na percepção humana.

Não é uma situação local, mas, arrisco dizer, do mundo. Nós apenas sentimos seus efeitos de forma drástica, por razões de ordem econômica e social. E também dimensionais.

Como a cidade não é grande, os problemas são ainda mais visíveis. Topamos com eles no cotidiano. Acontece que os buracos reais e metafóricos, ainda que denunciados, inclusive pelo cidadão que vai às redes sociais reclamar, avolumam-se sem solução que satisfaça, levando a outro problema, este de ordem comportamental.

Vem ocorrendo uma cisão no vínculo entre as pessoas e o meio em que vivem. Um corte entre elas e a vida social. O espaço, que no ado era público, já hoje parece ser de ninguém.

A responsabilidade parcial disso parece, curiosamente, ser das novas tecnologias de comunicação. Se por um lado elas deram voz à sociedade como um todo, por outro, ao igualmente darem amplo o ao mundo virtual, elas nos têm distraído da concretude do mundo, de interação sempre mais hostil — distraído, enfim, da realidade mesma, propiciando que vivamos em mundos paralelos.

Outra razão é que, ao menos no essencial, nada muda em nossa realidade. Os problemas que dizem respeito à coletividade se repetem sem solução, fatigando a vida, pulverizando a mobilização.

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Como a dinâmica da cidade (e da realidade) não responde como deveria, eis o ponto, estamos buscando reparações no ambiente virtual, sensitivamente mais recompensador, além de disponível na palma da mão.

No mundo moderno, não habitamos mais exatamente nas cidades. Estamos habitando no mundo virtual, onde não há frustrações, mas sim gratificação instantânea. Andamos absortos demais em nossa vida. Abduzidos por temas de exclusivo interesse pessoal, retroalimentados minuto a minuto pelo algoritmo.

Antes vivíamos num mundo de trocas diretas entre as pessoas. Hoje habitamos numa nuvem, no cyber-espaço. Andamos parecendo cada dia mais com Thomas Anderson, protagonista do filme Matrix. Conectado por cabos a um imenso sistema de computadores do futuro, ele vive literalmente em uma realidade paralela. Isso dá

Para complicar tudo, há pensadores para quem a realidade é uma simulação.

Segundo eles, cada um de nós só tem o às coisas através dos sentidos (olfato, visão, tato, audição, paladar). Porém, como cores, cheiros etc. não existem no mundo concreto, mas são simulações percebidas pelo nosso corpo (pessoas veem as cores em diferentes tons, quando não em diferentes, como os daltônicos), aqueles pensadores sustentam que o mundo como o percebemos seria resultado dos nossos sentidos.

Assim, a única coisa real seria a razão, quer dizer, o modo como processamos aquelas percepções dos sentidos. É o que diz Descartes, para quem a razão é a única prova da existência. Como amos o mundo virtual pelos mesmos sentidos que amos o concreto, não haveria diferença entre eles.

Segundo aqueles pensadores, como o mundo virtual está entrelaçado com o mundo concreto, não deveríamos condenar o mundo virtual, mas sim o explorarmos melhor.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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