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Opinião

PICARETAGEM NA POLÍTICA AMBIENTAL

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Marcelo Dutra da Silva, ecólogo *

Para além da crise e da justa reivindicação dos caminhoneiros, a falta de noção parece tomar conta do cenário político nacional.

Pela primeira vez na história deste país o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) está por ser gerido por alguém sem qualquer ligação com a área ambiental, um estranho no ninho, que só chegou lá porque compõe o quadro do Partido Republicano da Ordem Social, o PROS. Cairo Tavares, graduado em Ciência Política, tem 31 anos e é Secretário Nacional de Formação Política do PROS e desempenha a função de diretor-técnico da Fundação da Ordem Social (FOS), ligada ao partido. Não consta em seu currículo qualquer trabalho ou experiência com meio ambiente, tampouco algo que indique familiaridade com unidades de conservação.

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O ICMBio ou a ser alvo de disputa de partidos aliados e entrou na barganha para o governo manter seu frágil apoio político no Congresso Nacional, após a aprovação da medida provisória 809/17 que altera a Lei 11.516/07 e autoriza os órgãos executores do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), nos estados e municípios, a contratarem bancos oficiais para gerenciar uma espécie de fundo da compensação ambiental.

Portanto, 1,4 bilhão em multas ambientais retidos no caixa geral serão transferidos para projetos de recuperação e contrapartida ao dano ambiental. Obviamente, o comando da pasta é estratégico na gestão desses recursos e o PROS ganhou a disputa. Agora o órgão que cuida da criação e gestão de Unidades de Conservação federais e das espécies ameaçadas do país será dirigido por alguém que se quer é próximo do tema.

Os servidores do ICMbio estão incomodados e prometem protestos para demonstrar o descontentamento com a nomeação política do indicado. Em carta aberta funcionários afirmam que foram surpreendidos com a indicação e afirmam que o órgão, responsável pela gestão de mais de 300 Unidades de Conservação, que correspondem a quase 9 % do território continental e 24% do território marinho, “não pode ser entregue a dirigentes sem experiência na área socioambiental, por mera conveniência política”. E vamos combinar, a indicação é absurda e precisa ser tratada como tal.

Aliás, mais uma oportunidade para refletirmos sobre a importância do mérito e da necessidade de critérios mínimos nessa prática. O exercício político da indicação, mesmo quando se presta a formar composições de consenso, se perde quando não há respeito às instituições e a natureza das funções a serem ocupadas pelos seus dirigentes. Na verdade, quando algo é imposto dessa maneira, não tem jeito, precisa ser rejeitado com toda força que merece.

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E não precisamos ir muito longe, basta olhar com um pouco mais de atenção para os dirigentes das nossas secretarias de Estado e município para perceber que o modelo nacional se repete. Pessoas indicadas, que assumiram posições de importância técnica, que são sustentadas no papel de comando, apenas, pelo seu mérito político, particularmente na pasta de meio ambiente, onde a importância do tema não é considerada. Caso típico de Pelotas, onde a semelhança não é mera coincidência.

O artigo acima foi publicado originalmente, nesta terça-feira (29), no Diário Popular, onde o autor assina coluna.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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