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Opinião 4d6u6w

Efeitos benéficos da crise 2m1i1k

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No meio da crise que vivemos, parece perda de tempo abordar os municípios. Mas é impossível não falar deles. A vida na Princesa do Sul, cujo título real a realidade anulou faz muito, também é afetada pela crise.

Como em outras cidades, a gasolina nos postos pelotenses acabou. Um motorista de Uber me contou que, assim como fazem cambistas, houve pelotenses que estocaram gasolina para vendê-la mais caro. Como sabemos, “brasileiro não desiste nunca!”

A vida não anda fácil, mas mesmo as crises abrem oportunidades, ainda que clandestinas, como Al Capone com o álcool.

Eventos na cidade foram cancelados. Como o público teria dificuldade de comparecer, ficou ilógico o desperdício. Pessoal do transporte escolar fez protesto, prefeita Paula mostrou solidariedade à greve e adotou providências, já que o movimento afeta os serviços públicos, como o socorro por ambulâncias.

Nem tudo é ruim ou só bom.

Ontem, sexta, precisei sair à tarde – uma consulta médica na Rua Uruguai. Fui de Uber e voltei a pé, procurando o lado da calçada com sol, por causa do frio. No trajeto a pé, tive outra percepção do centro antigo.

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Minha sensação foi de que estava numa cidade sueca. Com poucos carros circulando, por causa da greve, achei bonita a região central, apesar de decadente, pois pude vê-la com maior clareza, sem aquele ritmo nervoso e irracional. Meu celular tocou, mas como o esquecera em casa, não tomei conhecimento.

Com poucos veículos em movimento e por ter esquecido o celular, minha atenção se dirigiu para as pessoas que avam. Como são ricos os tipos humanos, não? Uma riqueza que está na nossa cara, mas muitas vezes não vemos por causa do frenesi.

Hoje em dia não é tão fácil a gente se dar conta da gente mesmo, quanto mais dos outros. Mas é sempre bom quando acontece.

As crises costumam servir para isso, para que a gente perceba a nossa estupidez. Por exemplo, carro próprio pra quê, depois do Uber, do Cabify? O celular tem muito mais serventia, mas também serve para distrair.

Nos tempos atuais, as distrações provocadas pela evolução tecnológica concorrem com a pessoa em si com vantagem competitiva, ao menos quando sua utilidade não é ameaçada. Imagine se, junto com o desafio à mobilidade, os celulares, essa versão sofisticada do Tamagotchi, aquele brinquedo japonês dos anos 90, deixassem de receber sinal.

O Tamagotchi era um bichinho virtual que nos cobrava alimento e carinho para não ficar doente. O celular também nos cobra atenção, mas, ao contrário do Tamagotchi, que só dependia de nós para viver, em relação aos celulares e veículos, estamos totalmente dependentes das corporações para que a gente não “adoeça”.

Como fiz no caminho de volta para casa, me pergunto se os homens de fato evoluem ou se apenas se distraem pensando que sim.

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Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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