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Uma vez, numa entrevista, já nos dias em que não era prefeito e vislumbrava o Piratini, Eduardo Leite me disse, falando de si mesmo como político, que “chega um ponto em que a candidatura não nos pertence”.
Na hora, a afirmação me caiu mal. Traço da personalidade. Quando sinto cheiro de flores, começo a procurar onde é o enterro.
Depois eu procurei pensar pelo lado bom. De que um político possa se materializar como referência positiva, em torno da qual outras forças políticas se aglutinam na forma de circunstâncias por vezes incontornáveis e naturais de uma atividade que diz respeito a interesses coletivos, dos mais aos menos nobres.

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Certas coisas me esforço pra pensar pelo lado bom, mesmo que seja no ambiente sujo da política brasileira.
É óbvio que Leite possui vocação e potencial. Acredito que têm ótimas possibilidades de chegar ao Piratini, até mesmo, um dia, ao Planalto. Falo sério. Se Collor, FHC, Lula e Dilma subiram a rampa, ele também pode escalá-la.
Outro dia vi uma fotografia em que o tucano selava com um aperto de mão um acordo entre ele, presidente do PSDB gaúcho, e seu futuro candidato a vice-governador, o ex-delegado Ranolfo Vieira, do PTB. Leite amarrou em âmbito estadual a mesma parceria que fez em Pelotas, com o PTB (Idemar Barz) de vice de Paula, sua sucessora.
Contemplando a foto, automaticamente me veio aquela afirmação que Leite me fez na entrevista. “Chega um ponto em que a candidatura não nos pertence…”.
Inevitável.
Precoce, o ex-prefeito tem deixado claro que sabe o que quer, uma qualidade que o mundo corporativo exalta e chama de “foco”. Leite tem foco, primogênito da ambição.
Ao mesmo tempo, irando a fotografia, senti cheiro de flores. Porque há nela um aroma de cemitério, ou seja, a sensação de que a velha política acaba engolfando o que, até ontem, simbolizava o novo. À primeira vista, temos a impressão de que Leite não combina com a turma que o ladeia. Exagerando, ele soa, de relance, como uma criança que, para recuperar o pirulito, entrou na jaula dos leões sem medir as consequências.
Não se trata disso, claro. É só uma impressão ligeira, principalmente para quem não acompanha a política.
Leite não é uma criança, e é óbvio que tem outros pirulitos no bolso. Tenho pra mim que ele jogou de propósito um pirulito dentro da jaula para ver se os leões gostariam do sabor da “doce política”, para repetir um slogan publicitário sem imaginação. Pelo visto, gostaram da oferta. Bom para ele.
O PTB é presidido por Roberto Jefferson, que, então deputado federal, denunciou o mensalão, foi condenado, puxou cadeia e, liberto por problemas de saúde, voltou à cena política. PTB e PSDB estão na mira da Lava Jato. Aliás, Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas, acaba de ser preso, envolvido no mensalão tucano. Aécio parece morto e enterrado, e Alckmin, sob investigação, parece ser a bola da vez dos procuradores.
Já Leite, embora responda a três processos por improbidade istrativa, pelo tempo em que foi prefeito, ainda não teve seus atos sentenciados em definitivo. Pessoalmente, conserva o próprio nome limpo, apesar da brincadeira dos pirulitos.