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Pra que têm servido os prefeitos pelotenses? 3y6t5f

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Escrevi tanto sobre Pelotas já, que às vezes sinto como se fosse um desses espíritos obsessores de que falam alguns livros de autoajuda que vendem como pãezinhos. Acompanhei as gestões Fetter, Leite e, agora, Paula.

Dez anos se aram, e talvez a coisa mais impactante que tenha ocorrido a quem de alguma forma se importa com a vida na cidade foi que todos ficamos um pouco mais velhos e cansados.

Compare.

Quanta coisa de importante aconteceu na cena pública do País na última década? Quanta coisa de importante ocorreu em Pelotas no mesmo período?

Sei que há a questão de escala e de importância.

Mesmo na escala menor, porém, a mim parece que foi como se em Pelotas não houvesse ocorrido nada de relevante e perene proveniente do âmbito público.

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É uma sensação, como eu disse, pois houve alguns fatos de impacto e durabilidade. A duplicação da Avenida Ferreira Viana e a licitação do transporte coletivo foram dois deles.

Mesmo assim, ao menos para mim, a impressão de que “nada ocorreu” permanece. Sinto assim por causa de um problema temporal.

Por maior valor que alguns feitos dos gestores pelotenses possam ter, como são tardios em relação às nossas expectativas, a realização parece cumprir o destino daqueles fogos de artifício que se dissolvem em silêncio no ar.

Em Pelotas, as boas novas do poder público dão as caras quando perderam a graça.

Sabe quando a gente renega o tempo para manter a ilusão de valor próprio?

Minha impressão é de que apenas os cães, cuja audição seria quatro vezes superior a do homem, ouvem em decibéis alarmantes coisas que nós, embora já tenhamos ouvido, mesmo através de aparelhos de surdez, e visto, ainda que pelo canto dos olhos, nos negamos a encarar, pelo motivo lá de cima: manter o amor próprio apesar das marcas que o tempo vai deixando pelo caminho.

Já a visão periférica canina é dez vezes maior do que a humana. Sendo assim, é uma pena que os cachorros não consigam falar sobre o que ouvem e veem, em audiência pública na Câmara.

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Não estou culpando os prefeitos nem dizendo que Pelotas é caso único entre os municípios. Longe de mim, que sou só uma voz. Sei muito bem que todos foram bem-intencionados. Que trabalharam e trabalham bastante em meio às (in) conveniências da burocracia.

Na política, os meios não deveriam justificar os fins, mas tenho certo que, cada qual ao modo próprio de sua singularidade, procurou zelar ao menos pela biografia, para depois se orgulhar na inauguração do registro fotográfico de sua agem, emoldurada por madeira de imitação imperial, na Galeria dos Ex-prefeitos, dos prefeitos que se foram e, também, dos que talvez voltem um dia, como já nos aconteceu com Irajá, Anselmo e Bernardo.

Ao contrário do que sugerem nas campanhas eleitorais, a verdade é que, apesar das boas intenções, os prefeitos não conseguem fazer coisas grandes, visionárias e caprichadas pela cidade quando chegam ao segundo andar do prédio do Paço.

Tenho pra mim que eles próprios sabem disso antes, o que torna curioso o interesse por uma cadeira que exigirá um trabalho com mínima capacidade de entrega.

Talvez eles amenizem internamente o conflito pensando, o que é verdade, que a expectativa dos pelotenses se tornou baixa, talvez subterrânea, como a fiação que se pretende instalar um dia no centro histórico, para desmaranhar de vez a paisagem, para que enfim a vejamos com total clareza.

Se em geral os prefeitos pelotenses já não podiam fazer muito, piorou agora, por causa da escassez do Tesouro, embora os bancos estejam a postos para salvar municípios, estados e governo federal da ruína total, principalmente quando o dinheiro se torna caro. Aliás, muito obrigado PT!

Às vezes, analisando a cena pública de Pelotas, da qual a cidade é um espelho, vejo o reflexo de um brechó, com a vendedora sem perspectiva nos atendendo em dia úmido, em meio ao aroma de ado. Não digo assim por menosprezo, mas por sinceridade.

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Embora não itam, às vezes me ocorre que o problema dos gestores públicos pelotenses é que eles trabalham com a perspectiva de “tombamento”.

Jornalista e escritor. Editor do Amigos de Pelotas. Ex Senado, MEC e Correio Braziliense. Foi editor-executivo da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi). Atuou como consultor da Unesco e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Uma vez ganhador do Prêmio Esso de Jornalismo, é autor dos livros Onde tudo isso vai parar e O fator animal, publicados pela Editora Lumina, de Porto Alegre. Em São Paulo, foi editor free-lancer na Editora Abril.

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2 Comments

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  1. Da Redação

    22/05/18 at 14:16

    Daí JG. Textos podem ser interpretados de várias formas, como bem sabes. Talvez tu tenhas razão, há um desencanto. Gostaria de observar, porém, que falo de uma sensação, uma percepção média da realidade. Não é um sentimento genérico que não contraponha exceções positivas. Agradeço pelo comentário. Prometo tentar valorizar, com olho positivo mais dedicado, alguns aspectos que merecem reconhecimento. Aliás, de vez em quando faço isso.
    Abração.

  2. João Garcia

    21/05/18 at 17:23

    O AMOR por Pelotas, quando alguém escreve o que escreveu AMADOR, revela que ninguém ama esta cidade tão querida. Mas é normal este sentimento revelado nas crônicas dele! O pelotense en geral desama sua cidade e credita isso aos dirigentes. Queria o que o Amador: Grandes avenidas, viadutos?, como se Pelotas fosse o caos.
    Os prefeitos têm feito o que podem, mas dos pelotenses nada tem merecido. Se tem esses prefeitos é porque merecem. Foram eleitos por eles. Eleitos num dia, criticados no outro.

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Brasil e mundo 3m3y11

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio b4o68

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento 1f3218

O perigo das Gagas da vida 1n4w28

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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