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Opinião

Prédios históricos poderiam ser mais bem utilizados. O local onde Kafka trabalhava é hoje um hotel rentável

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Decidi fazer uma Parte II do meu artigo anterior, a fim de explicar melhor o ponto de vista que tento trazer ao leitor, agora tendo como foco o “Conjunto Histórico de Pelotas como Patrimônio Cultural Brasileiro”. Isto é relevante: sim, mas e daí?

Num comentário de meu artigo anterior, um leitor colacionou que a posição alçada por Pelotas atrairia um maior número de recursos para o restauro, por exemplo. Não estamos falando apenas do Casarão A ou B, 1 ou 2, senão de toda a cidade, do centro até o porto.

Os mais atentos dar-se-ão por conta que o sistema de iluminação pública é precário. Os fios se estendem por todo o perímetro urbano. Para toda cidade que quer alçar voos mais altos no que diz respeito ao seu ado, pois é só disso que vivemos aqui, salvo empreendimentos no entorno do centro, como o Parque Una, estamos estagnados, como uma nau que aguarda o seu naufrágio.

Escola Mario Quintana

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Decidi, portanto, usar a Europa como um paradigma e aproveito a ocasião para dar uma sugestão, qual seja, o uso de PPPs para que os Prédios Públicos em posse da Prefeitura tenham um destino, preferencialmente privados.

Quantos hotéis, estabelecimentos comerciais, mini-malls, conjunto de restaurantes e até mesmo centros comerciais poderiam funcionar nos casarios de Pelotas? Diversos.

É bastante comum em cidades do velho continente que os prédios históricos sejam utilizados com a finalidade de serem rentáveis. Qual o por quê? Ora, à medida que sua arrecadação aumenta, os investimentos podem ser realizados sem a necessidade de se recorrer aos órgãos estatais, tudo fica mais simples.

A rede de hotéis Accor, com sede na França, por ocasião, criou o selo Mgallery. Qual o sentido disto? Pois bem, prédios históricos são completamente reformados pela multinacional e convertidos em hotéis, mas sempre respeitando a história de cada sítio.

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Cia de Seguros em que Franz Kafka trabalhava virou Hotel em mãos privadas

Interior do hotel

Kafka no quadro: cultura preservada pelo capital

Talvez o melhor exemplo seja o prédio onde ficava a Companhia de Seguros em que o escritor tcheco Franz Kafka trabalhava. Hoje é um hotel, com bares, restaurantes e, para a surpresa de todos, o escritório de Franz Kafka restaurado de acordo com a legislação urbanística da República Tcheca. Sempre me questionei se tal empreitada não poderia acontecer por aqui.

Infelizmente o Grande Hotel está nas mãos da UFPel. Por ali ter-se-ia um local sensacional para receber os turistas que viriam até Pelotas para conhecer o outro Patrimônio reconhecido pelo IPHAN, qual seja, a Cultura Artesanal do Doce.

Peço que o leitor raciocine comigo, pois uma coisa leva à outra e assim sucessivamente. Não há como tornar o doce atraente para quem vem de fora se não há atrações e, adianto, as charqueadas não bastam.

Pelotas apresenta riquezas que vão além do seu ado Saladeril, mas me entristece em ver que muitos pensam que ainda vivemos naqueles tempos.

Há, igualmente, que se falar que o Poder Público é negligente com o que diz respeito à manutenção como um todo, pois está em seu poder o IPTU progressivo (algo que sou contrário, mas, enfim, aí está na Constituição), bem como o Instituto Jurídico da Desapropriação.

Sobre o doce, pois bem, fica aqui a ironia: foi tombado o patrimônio artesanal de uma iguaria artesanal, sendo que a Revolução Industrial provou que tal tipo de negócio não é rentável para os grandes centros.

Enquanto isto as verdadeiras doceiras estão esquecidas, confesso que nem sei mais onde encontrá-las, sinto falta de comer uma bomba de chocolate e uma inha de coco, coisa rara, eis que são fresquinhas, aquelas “feitas no dia”, e, como acompanhamento, um bom vinho Torrontés de Colheita Tardia, especialmente do norte da Argentina, como La Rioja.

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Brasil e mundo

Antes de Gaga, Madonna já havia aprontado no Rio

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Em seu show no Rio, em maio de 2024, Madonna exibiu numa tela ao fundo do palco imagens de ícones culturais, entre eles Che Guevara e Frida Kahlo. Foi surpreendente que o tenha feito, afinal, ela se apresenta como defensora dos direitos das minorias, inclusive da Queer, como faz Gaga, minoria que se fez maioria em ambos os shows.

Na ocasião, Madonna soou mais inconsequente que Gaga com seu “Manifesto do Caos”.

Os livros contam que o governo cubano, do qual Che fez parte, perseguia homossexuais, chegando a fuzilá-los por isso. Por quê? Porque os considerava hedonistas — indivíduos de natureza subversiva ao regime de exceção. Por serem, para eles, incapazes de controlar seus ardores sensuais e, por conseguinte, de se enquadrar em um regime em que a liberdade não tinha lugar, muito menos de fala.

Já Frida foi amante de Trotsky. E, depois deste ser assassinado no exílio a mando de Stálin, a artista ainda teve a pachorra de pintar um quadro com o rosto de Stálin, exposto até hoje em sua casa-museu, para iração de boquiabertos turistas bem informados sobre os fatos.

Madonna levou R$ 17 milhões do sistema capitalista por um show de um par de horas em que, literalmente, performou. Sem esforço, fingiu que cantava. Playback.

Dizem que artistas, por natureza, são “ingovernáveis”. A visão que eles teriam de vida seria mais importante do que a vida, do que a matéria. Pois há artistas e artistas.

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Madonna é dessas sumidades que a gente não sabe, de fato, o que pensa. Apenas intui, por projeção. Tente lembrar de alguma fala substancial dela. Não lembramos, porque vive da imagem que criou. Vende uma imagem que, no fundo, talvez nem corresponda ao que ela é de verdade.

No fim da trajetória, depois de ganhar a vida, artistas costumam surpreender o público, mostrando sua verdadeira face em biografias. Pelo desconforto de partir com uma máscara mortuária falsa.

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Cultura e entretenimento

O perigo das Gagas da vida

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Ajoelhado na calçada, à moda dos muçulmanos voltados para Meca, porém usando minissaia e rumorosos saltos vermelhos, um homem vestido de mulher berrava com desespero, na tarde de sexta 2, para uma janela vazia do Copacabana Palace, no Rio. Esgarçando-se na reiteração, expelia em golfos: “Aparece, Gagaaa. Gaaaagaaaaa”. Projetava-se à frente ao gritar, recuava em busca de fôlego e voltava a projetar-se.

Como a cantora não deu os ares à janela do hotel, o rapaz, tal qual uma atriz de novela mexicana, a sombra e o rímel escorrendo pelas bochechas, chorou o que pode. Estava cercado por uma multidão que, assim como ele, queria porque queria fincar os olhos na mutante Lady Gaga, uma mistura de mil faces a partir da fusão de Madonna com Maria Alcina, antes de seu show. No país que ama debochar, a cena viralizou.

Multidão muito maior ironizou o drama. Memes correram por todo lado para denunciar o grande número de desempregados no Brasil. Gente com tempo de sobra para chorar, porém pelas razões erradas.

Ocorre que muitos dos presentes à manifestação, como o atormentado rapaz, veem em Gaga um ícone Queer. Uma rainha da comunidade LGBTQIA+, representante global das causas do amor sem distinção, como a pop estimula em seu “Manifesto do Caos”, lido por ela no show. Nele, Gaga prega a “importância da expressão inabalável da própria identidade, mesmo que isso signifique viver em estado de caos interno”. Um manifesto assim, mais do que inconsequente, é temerário.

Como assim caos interior?

Tomado ao pé da letra por destinatários confusos, um manifesto desses pode ser mortificante. Afinal, viver a própria identidade não significa viver sem freios, mas sim encontrar um meio termo entre o desejo e a realidade. Justamente para evitar o caos. Logo, o manifesto é, isso sim, assustador — por haver (sempre há) tantas pessoas suscetíveis de embarcar nessas canoas de alto risco, cheias de remendos destinados a cobrir furos da embarcação. Pobres dos ageiros que, cegos por influência de ídolos de ocasião, avançam pelo lago em condições tão incertas.

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A idolatria… ela é mais antiga do que fazer pipi pra frente e, ao menos no caso dos homens, ainda de pé. Ultimamente as coisas andam um tanto confusas nesse quesito, mas ao menos a adoração se mantém intacta, assim como a veneta dos gozadores, para quem o humor repõe as coisas em proporção, ou seja, em seu devido lugar.

Todos temos cotas de iração por artistas, mas à veneração, eis a questão, se entregam os vulneráveis. O que esses buscam, mais do que a própria vida, é um reflexo (uma sombra?) de suas identidades. Uma projeção material da pessoa que gostariam de ser, não fossem o que são. É aí que mora, num duplex de cobertura, o perigo. O rapaz pensa que Gaga é como ele, só que não.

Não lembro quem disse que aqui é um vale de lágrimas. Mas o é de fato, bem como é um fato que artistas, como políticos, são depositários das nossas esperanças, mesmo que atuem na mais antiga das profissões, anterior à prostituição — a representação —, o primeiro requisito para sobreviver em sociedade, quando não ficar rico, e sem necessariamente excluir, ainda que camuflada, a segunda profissão.

É de se imaginar o rapaz voltando para casa frustrado. É de presumi-lo no sofá, fazendo um minuto de silêncio.

Mas depois se reerguendo.

Não há de ser nada. Amanhã Gaga vai arrasaaar.

Gagaaaaaa.

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